Militar carioca desabafa sobre GLO em Belém com milhares de soldados para COP30 enquanto RJ “pega fogo”; veja vídeo
 
                    Brasil – Um militar carioca, lotado temporariamente na capital paraense para os preparativos da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro de 2025, gravou um áudio revoltado que começou a circular em grupos de WhatsApp e redes sociais nesta semana.
Nele, o homem – que se identifica como parte das Forças Armadas mobilizadas para o evento – critica duramente as prioridades do governo federal. “O nove dedos é tão… [xingamento] que instituiu a GLO aqui em Belém, por causa da COP30 que nem começou, mas não autorizou a instituir a GLO no Rio de Janeiro onde o bugulho tá pegando fogo. Tudo jogo de interesse, irmão”, diz o militar.
Veja vídeo:
A Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que permite o emprego das Forças Armadas em ações de segurança pública em casos de perturbação grave da ordem, foi confirmada pelo governo federal para Belém durante a COP30, atendendo a um pedido do governador Helder Barbalho (MDB-PA), e tem como expectativa 8 mil militares. A medida, com vigência prevista de 6 a 30 de novembro, mobiliza milhares de homens das Forças Armadas e de segurança pública em treinamentos e formaturas. ”
Eu tô aqui em Belém participando da COP30, formatura agora com 5 mil homens entre as Forças Armadas e as Forças de Segurança”, relata o militar no áudio, enviado a amigos civis com o pedido explícito de divulgação: “Aí eu tô mandando pra vários amigos meus que não são militares […] Pro pessoal poder saber. Porque a parada aqui tá na surdina, entendeu? Eles tão fazendo a parada aqui na surdina. Isso aí não vai passar no Jornal Nacional. Mas tem que divulgar. É sacanagem”.
O descontentamento ecoa o contraste gritante com a situação no Rio de Janeiro, onde o crime organizado, especialmente o Comando Vermelho (CV), vive uma escalada de violência. Na terça-feira (28), a Operação Contenção – ação permanente do governo estadual contra a expansão do CV – resultou na operação policial mais letal da história do estado: pelo menos 121 mortos (incluindo quatro policiais), 113 prisões e a apreensão de 93 fuzis, segundo balanço oficial da Polícia Civil. Moradores do Complexo da Penha e do Alemão, na Zona Norte, relataram ter recolhido mais de 70 corpos em áreas de mata, levando-os a praças para identificação, em meio a barricadas incendiadas em retaliação. O governador Cláudio Castro (PL) classificou a ação como “sucesso”, atribuindo-a à operação “sozinha”, sem reforços federais.
Castro revelou que três pedidos de empréstimo de veículos blindados do Exército, feitos em janeiro e fevereiro de 2025, foram negados pela Advocacia-Geral da União (AGU). A justificativa: sem decreto presidencial de GLO, o uso de equipamentos federais em operações estaduais seria inconstitucional. “Tivemos pedidos negados três vezes: para emprestar o blindado, tinha que ter GLO, e o presidente é contra a GLO”, disparou o governador em coletiva. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), sob Ricardo Lewandowski, rebateu: não houve pedido formal para a operação de 28 de outubro, mas o governo federal mantém apoio contínuo, com a Força Nacional atuando desde 2023 (11 renovações) e 178 operações da Polícia Federal em 2025, resultando em 210 prisões e 10 toneladas de drogas apreendidas. Lewandowski admitiu que GLOs exigem reconhecimento de “incapacidade das forças locais” pelo governador, o que não ocorreu.
O episódio expõe uma crise de coordenação federativa. Enquanto o Rio clama por ajuda contra o CV – facção que, segundo investigações, abriga líderes de outros estados e expande territórios via tráfico interestadual –, governadores de oposição se mobilizam em solidariedade. Nesta quarta (29), Castro se reuniu virtualmente com Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO), Jorginho Mello (SC) e Mauro Mendes (MT). Eles definiram uma comitiva para visitar o Rio nesta quinta (30), propondo endurecimento penal via PL 2.428/2025 (que equipara facções a terrorismo) e possível envio de tropas estaduais. “O combate ao crime organizado não pode ter fronteiras. É uma responsabilidade de todos”, declarou Mello. Caiado criticou o PT por “complacência com o crime”, enquanto Zema enfatizou a “importância de resolver o Rio”.
O áudio do militar, que pediu anonimato por medo de represálias, reflete um sentimento de abandono entre agentes de segurança fluminenses. “O nosso Rio de Janeiro em chamas, prra, e aqui os cara inventando moda de um lugar que, prra, nem precisa”, conclui ele. Críticos, como a Comissão de Direitos Humanos do Senado, pedem investigação sobre a letalidade da operação (121 civis mortos), questionando se ela atende aos princípios do Estado Democrático de Direito. O governo federal, por sua vez, defende a PEC da Segurança Pública (18/2025), que cria um Sistema Único de Segurança e amplia poderes da PF.
Com a COP30 a dias de iniciar, o contraste entre as formaturas em Belém e o caos nas favelas cariocas – com imagens de corpos enfileirados e mães em luto – alimenta um debate urgente: priorizar eventos globais ou crises locais? O grito do militar, ecoando “tem que divulgar, prra”, pode forçar uma resposta nacional.

 
    


 
 
         
         
         
         
        