Tarifas de 50% dos EUA sobre carne e café brasileiros disparam preços e prejudicam consumidores americanos; veja vídeo
Brasil – A decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, como carne bovina e café, a partir de 1º de agosto de 2025, está causando um impacto significativo nos preços de alimentos no mercado americano, afetando diretamente o bolso dos consumidores. Fernando Hessel, observador da Casa Branca e do Pentágono e conselheiro em política, aviação e imigração, alertou que a medida, aparentemente motivada por questões políticas, é uma estratégia comercial mal planejada que eleva a inflação e reduz a competitividade dos EUA, enquanto o Brasil redireciona suas exportações para outros mercados, como a China.
Aumento recorde nos preços da carne
Os preços da carne bovina nos EUA atingiram níveis históricos em julho de 2025, com o preço médio por libra (aproximadamente 450 gramas) chegando a US$ 9,26, o equivalente a mais de R$ 60 por meio quilo, segundo Hessel. A carne moída, essencial para hambúrgueres, subiu 12%, de US$ 5,40 para US$ 6,12 por libra, enquanto cortes como o bife alcançaram US$ 11,49 por libra. Esse aumento é agravado pela crise no rebanho bovino americano, que atingiu o menor número em mais de 70 anos, com apenas 86,7 milhões de cabeças em 2025, conforme dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
O Brasil, que fornece cerca de 23% da carne processada consumida nos EUA, enfrenta agora uma barreira tarifária que eleva o custo total para 76% sobre o volume excedente da cota de 65 mil toneladas. Como resultado, exportadores brasileiros, como JBS e Marfrig, reduziram embarques para os EUA em 62% entre abril e junho de 2025, de 48 mil para 18 mil toneladas. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) estima perdas de pelo menos US$ 1 bilhão no segundo semestre de 2025, já que nenhum outro mercado pode absorver imediatamente o volume demandado pelos EUA a preços premium.
Hessel critica a decisão, comparando-a a “apagar um incêndio com gasolina”. Ele destaca que a escassez de gado nos EUA, causada por anos de seca e aumento nos custos de produção, torna o país dependente de importações. A tarifa, portanto, limita o acesso a um fornecedor chave como o Brasil, enquanto alternativas como Austrália, Argentina ou Uruguai são mais caras e insuficientes para suprir a demanda.
Café mais caro nas xícaras americanas
O café, outro pilar das exportações brasileiras, também sofre com as tarifas. Os EUA importam cerca de 99% do café que consomem, sendo o Brasil responsável por aproximadamente um terço desse mercado, com 8 milhões de sacas de 60 kg por ano. Hessel aponta que a tarifa de 50% resultou em um aumento imediato de 9% no preço por xícara, com previsões de acréscimos superiores a 50 centavos de dólar por unidade.
Substituir o café brasileiro é um desafio, já que outros grandes produtores, como Vietnã e Colômbia, não conseguem suprir a demanda americana com a mesma escala e preço competitivo. Marcos Matos, da Cecafé, alertou que a medida representa “uma perda para as empresas brasileiras e mais custos e inflação para os consumidores americanos”. Enquanto isso, o Brasil já busca alternativas, com a China autorizando, em 3 de agosto de 2025, 183 exportadores brasileiros de café a entrar com força no mercado asiático, conforme destacado por Hessel.
Estratégia questionável e impactos domésticos
A imposição das tarifas foi justificada pelo governo americano como uma forma de proteger a indústria local e responder a questões políticas, incluindo críticas ao Brasil por supostos ataques a eleições livres. No entanto, Hessel chama a decisão de “mal induzida e porcamente planejada”, alertando que ela agrava a inflação alimentar nos EUA sem resolver os desafios da produção doméstica. Grupos como a National Cattlemen’s Beef Association (NCBA) apoiam as tarifas, argumentando que protegem os produtores americanos e abordam preocupações com a segurança sanitária do gado brasileiro. Contudo, a redução de importações em um momento de baixa oferta doméstica apenas intensifica os preços.
David Ortega, economista da Michigan State University, destacou que os importadores americanos terão de pagar mais pela carne brasileira ou buscar fornecedores mais caros, o que eleva os preços ao consumidor. Thomas Gremillion, da Consumer Federation of America, reforçou que as tarifas aumentarão o custo de alimentos básicos, especialmente após cortes recentes em programas de assistência alimentar nos EUA.
Brasil busca novos mercados
Enquanto os EUA enfrentam inflação e escassez, o Brasil demonstra resiliência ao redirecionar suas exportações. A China, maior parceira comercial do Brasil, já absorve 46% das exportações de carne bovina e está expandindo sua demanda por café. A autorização para novos exportadores de café brasileiros, conforme mencionado por Hessel, reforça a estratégia de diversificação de mercados, reduzindo a dependência dos EUA, que representam apenas 12% das exportações totais brasileiras.
A força do setor agrícola brasileiro, que representa cerca de 20% do PIB do país, permite maior flexibilidade para enfrentar as tarifas. No entanto, no curto prazo, os preços de carne e café no mercado interno brasileiro caíram devido ao excedente não absorvido pelos EUA, enquanto os preços nos EUA disparam, evidenciando um impacto desigual.
Um erro estratégico?
Para Fernando Hessel, a política tarifária dos EUA ignora a interdependência do mercado global. Com o rebanho americano em crise e a demanda por carne e café em alta, as tarifas agravam a situação dos consumidores americanos sem resolver os desafios estruturais da produção doméstica. Enquanto isso, o Brasil, embora impactado, encontra alternativas em mercados como a China, que continuam a valorizar seus produtos agrícolas.
Hessel conclui que a decisão americana, longe de fortalecer a economia, pode estar “sabotando” os próprios interesses dos EUA. A pergunta que permanece é: até quando os consumidores americanos suportarão o peso dessa estratégia no bolso?


