Philco demite 800 trabalhadores em Manaus; saiba motivo
Manaus – A Philco, uma das maiores indústrias do Polo Industrial de Manaus, demitiu nesta semana 800 trabalhadores de sua fábrica na capital amazonense. A decisão da empresa, controlada pela Britânia Eletrodomésticos, pegou de surpresa funcionários, sindicatos e o setor industrial, reacendendo o alerta sobre a instabilidade no mercado de eletroeletrônicos na região.
Em nota, a companhia justificou os cortes alegando queda nas vendas durante o período sazonal e não concretização do crescimento projetado para o ano nos segmentos de televisores, micro-ondas e aparelhos de ar-condicionado — os principais produtos fabricados na unidade de Manaus.
Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Estado do Amazonas e da Central Única dos Trabalhadores no estado, Valdemir Santana, os cortes representam aproximadamente 30% da força de trabalho da unidade. “É um caso atípico. Outras empresas do mesmo setor enfrentam desafios parecidos, mas nenhuma tomou medidas tão drásticas. Tem estoque de TVs, é verdade, mas as vendas não caíram a ponto de justificar essa quantidade de demissões”, afirmou.
De fato, dados divulgados pela Eletros, associação que representa o setor eletroeletrônico, mostram que as vendas de televisores entre janeiro e maio de 2025 registraram crescimento de 0,3% em relação ao mesmo período de 2024. A expectativa é que o setor feche o semestre com alta de 1%, indicando estabilidade e não retração.
As homologações das demissões começaram na segunda-feira (14), na sede do sindicato. O pacote de rescisão negociado inclui manutenção do plano de saúde até o fim de agosto e a entrega de três cestas básicas por trabalhador, sendo quatro cestas para aqueles com mais de dois anos de casa. A empresa também se comprometeu a dar prioridade de recontratação aos demitidos, caso a produção volte a crescer.
Apesar da justificativa da Philco, a notícia gerou preocupação entre os trabalhadores e autoridades locais, especialmente porque o Polo Industrial de Manaus vinha registrando níveis recordes de emprego, com mais de 132 mil trabalhadores ativos. “Faz três anos que não tínhamos uma demissão em massa desse porte. Esperamos que esses profissionais consigam rapidamente se recolocar, pois a falta de mão de obra qualificada tem sido um desafio em nossa indústria”, declarou Santana.
A empresa não confirmou se novos cortes estão previstos, mas garantiu que a medida não afeta outras unidades da Britânia, localizadas em Curitiba (PR) e Joinville (SC). Segundo a companhia, a ação faz parte de uma reorganização pontual da operação em Manaus, alinhada à capacidade de produção atual.
O episódio reacende o debate sobre a vulnerabilidade econômica da Zona Franca, altamente dependente de segmentos sazonais e sensíveis à variação de demanda. Especialistas reforçam que a diversificação da matriz industrial é urgente para garantir estabilidade no emprego e proteção ao trabalhador em tempos de incerteza.