O império da fragrância: como a Phebo transformou um simples sabonete em símbolo de status no Brasil; veja vídeo
Brasil – Enquanto o país tomava banho com sabonete de coco, dois empreendedores portugueses decidiram que o Brasil estava pronto para algo a mais — e criaram uma das marcas mais icônicas da história da perfumaria nacional.
Belém do Pará, 1930: Em meio a um mercado dominado por sabonetes simples, brancos, retangulares e baratos, dois primos portugueses, Antônio e Mário Santiago, resolveram ignorar todas as regras da lógica comercial e lançaram um produto ousado: um sabonete que custava cinco vezes mais que qualquer concorrente — e que ninguém queria comprar.
Era o Sabonete Odor de Rosas, da recém-criada Perfumaria Phebo. Com mais de 100 ingredientes na fórmula, incluindo pau-rosa da Amazônia, sândalo, cravo-da-Índia e canela de Madagascar, o sabonete transparente e oval transformava o banho numa experiência sensorial inédita para a época. O perfume permanecia no corpo por dias, e a apresentação do produto vinha em uma elegante caixa de madeira, posicionando-se não como item de higiene, mas como objeto de luxo e desejo.
De devolvido a desejado
No início, os comerciantes do Rio e de São Paulo se recusavam a estocar o produto. Achavam absurdo cobrar tão caro por algo tão básico. Mas os Santiagos não queriam competir no volume. Eles queriam reinventar o consumo do brasileiro — e, aos poucos, conseguiram.
A primeira venda importante veio com seis dúzias para uma farmácia. Um ano depois, um cliente comprou 25 dúzias e se tornou o maior revendedor da marca. O sabonete virou presente de casamento, item de penteadeira e até símbolo de status.
Com o sucesso, a marca não parou. Durante os anos 1940 e 1950, a Phebo expandiu sua linha para incluir extratos, pós de arroz, loções, sabonetes masculinos e fragrâncias exóticas. A empresa patrocinou concursos de beleza e recebeu a visita da Miss Brasil da época em sua fábrica em Belém — tudo isso enquanto ainda mantinha o foco em uma premissa simples: transformar o ordinário em extraordinário.
A flor que não nasce no Brasil, mas perfuma o país
Em 1946, Mário Santiago viajou aos Alpes suíços e se encantou com a lavanda local — a alfazema. Mesmo sabendo que a flor não crescia em solo tropical, ele decidiu importar a essência e lançou a Seiva de Alfazema, que virou novo fenômeno nacional. O perfume, que os brasileiros jamais tinham sentido antes, virou sinônimo de sofisticação e refinamento.
Esse episódio marcou uma virada: a Phebo não vendia mais sabonetes — vendia sensações, experiências e exclusividade. Era a pioneira em aplicar conceitos que só décadas depois seriam popularizados, como marketing emocional, posicionamento premium e luxo acessível.
Um case de marketing premiado
Nos anos 1980, a Phebo ganhou o Leão de Ouro em Cannes, com uma campanha publicitária da Seiva de Alfazema — uma proeza para uma marca brasileira de higiene pessoal. O feito consolidou a imagem da empresa como referência não apenas em produto, mas em construção de marca.
Hoje, a Phebo faz parte do Grupo Granado e continua produzindo fragrâncias com identidade forte, apostando na brasilidade, nas raízes amazônicas e no apelo visual vintage. Sua linha cresceu para incluir perfumes, hidratantes, desodorantes, velas e difusores, sempre mantendo a promessa de uma experiência sensorial elevada.
Apesar de encerrar sua produção em Belém em 2019, por questões logísticas, a essência da Phebo sobrevive: ousar, encantar e transformar o banal em inesquecível.
A lição da Phebo para o Brasil
Enquanto muitas empresas competem por preço e reduzem qualidade para manter margens, a Phebo provou, ainda em 1930, que é possível cobrar mais — e entregar mais. Seu legado é uma aula prática de como tradição, diferenciação e experiência podem construir marcas longevas e memoráveis.
E você? Já experimentou o sabonete que mudou a história da perfumaria brasileira?
Perfumaria Phebo: o único grande prazer desta vida, com preço de sabonete.




