Brasil enfrenta semana decisiva contra tarifas de 50% e sanções dos EUA
Brasil – A última semana de julho marca um momento decisivo para as relações entre Brasil e Estados Unidos, com a ameaça de sanções inéditas e tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A ofensiva do governo de Donald Trump, que inclui a possível aplicação da Lei Magnitsky contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o cancelamento de vistos de autoridades do Palácio do Planalto, é uma resposta ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe. O cenário preocupa o setor privado, que projeta perdas significativas, e mobiliza esforços diplomáticos para evitar uma crise econômica e política sem precedentes.
A Casa Branca justifica as medidas como reação a uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro e alegada censura a redes sociais americanas. Setores como agronegócio (carne, suco de laranja, café), indústria aeronáutica (Embraer), madeira, produtos químicos e açúcar estão na mira das tarifas, que podem reduzir as exportações brasileiras aos EUA em até 25% em 2025, segundo a Associação de Exportadores. O impacto econômico é agravado pela desvalorização do real, que caiu mais de 2% após o anúncio das medidas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou as tarifas como “chantagem inaceitável” e descartou contato direto com Trump, alegando que tal gesto seria interpretado como fraqueza. “Trump, quando você quiser conversar, o Brasil estará pronto para mostrar a verdade”, disse Lula, delegando as negociações ao vice-presidente Geraldo Alckmin. A oposição, liderada por figuras como Antonio Rueda (União Brasil) e governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos), critica a postura de Lula, cobrando diálogo direto para proteger a economia.
Em busca de uma solução, uma comitiva de oito senadores brasileiros desembarcou em Washington no sábado (26) para reuniões com autoridades americanas e entidades empresariais. Liderada por nomes como Nelsinho Trad (PSD-MS), Tereza Cristina (PP-MS) e Marcos Pontes (PL-SP), o grupo se reunirá com a U.S. Chamber of Commerce e parlamentares dos partidos Republicano e Democrata. A agenda, que se estende até quarta-feira (30), enfrenta o desafio do recesso da Câmara dos Representantes dos EUA, mas busca sensibilizar interlocutores sobre os prejuízos mútuos das tarifas.
O setor privado está em alerta. Empresas de carne, suco, aviação e móveis avaliam suspender embarques e decretar férias coletivas para evitar estoques parados. Analistas preveem aumento da inflação, pressão no câmbio e deterioração do ambiente de negócios caso a crise persista. O governo Lula prepara um plano de contingência com linhas de crédito, subsídios e possíveis ações na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas especialistas alertam que essas medidas podem elevar o endividamento público sem resolver o impasse estrutural.
Duas estratégias são consideradas: negociações setoriais para proteger produtos como café, suco de laranja e aeronaves, aproveitando a pressão do setor privado americano, ou a extensão do prazo para aplicação das tarifas, uma opção mais difícil por depender exclusivamente de Trump. A escalada retórica, incluindo a ameaça de sanções pessoais contra ministros do STF, como Alexandre de Moraes, eleva o risco de um precedente diplomático grave, com potencial para aprofundar a instabilidade política e econômica.
A missão do Senado em Washington é vista como crucial para sinalizar o compromisso do Brasil na defesa de setores estratégicos e na contenção de danos à imagem do país. No entanto, a polarização interna, com críticas de aliados de Bolsonaro às ações do STF, complica o cenário. A possibilidade de sanções adicionais, como restrições tecnológicas ou isolamento diplomático, também preocupa, embora medidas como um “apagão de GPS” sejam consideradas improváveis devido à interdependência global.
Enquanto o prazo de 1º de agosto se aproxima, o Brasil enfrenta o desafio de equilibrar soberania e pragmatismo econômico. A resolução da crise dependerá da habilidade de Brasília em negociar com uma administração americana imprevisível, em um momento em que a economia brasileira já enfrenta pressões internas e externas.


