SEDUC-AM paga quase R$ 3 milhões a microempresa com sede em shopping no Nordeste
Amazonas – Em meio à crise fiscal e ao decreto de contenção de gastos, o Governo do Amazonas, sob o comando de Wilson Lima (União Brasil), autorizou um contrato milionário de R$ 2,8 milhões com uma microempresa sediada em um box de shopping em Natal (RN), para prestar serviços de “contabilidade escolar” à Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar (Seduc-AM) — sem licitação.
O contrato foi assinado pela secretária Arlete Ferreira Mendonça e publicado no Diário Oficial do Estado. O documento aponta inexigibilidade de licitação e adjudica à Contedu Consultoria Contábil e Tecnologia da Informação Ltda. o valor de R$ 2.894.400,00, destinado à execução de “serviços de gestão e monitoramento da execução de despesas pelas Unidades Executoras, com cessão de software, implantação, parametrização, treinamento e suporte técnico”.
O que chama atenção é o perfil da empresa: de acordo com a Receita Federal, a Contedu é uma empresa de pequeno porte (EPP), registrada em um box do Seaway Shopping, bairro Capim Macio, em Natal, com capital social declarado de apenas R$ 600 mil — menos de um quarto do valor que receberá do governo amazonense. Os sócios, Leandro Nunes Araújo e Delano Gonçalves Vargas, são do Rio Grande do Norte e não apresentam histórico conhecido de atuação em grandes contratos educacionais.
Apesar do tamanho modesto, a Seduc-AM justificou a dispensa de licitação alegando que o serviço seria “exclusivo”. A decisão, porém, acontece no auge da crise fiscal do estado, pouco depois do governador Wilson Lima emitir decreto de limitação de empenhos e contenção de despesas, reforçando a incoerência da gestão.
Enquanto isso, escolas públicas enfrentam falta de merenda, atraso em obras e cortes de verbas. Especialistas apontam que atividades como contabilidade e monitoramento de despesas poderiam ser desempenhadas por servidores da própria Seduc, sem necessidade de gastar quase R$ 3 milhões com uma consultoria terceirizada de outro estado.
A contratação da Contedu ocorre no mesmo momento em que o Amazonas ocupa o último lugar no Enem 2025. O resultado levou o Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) a instaurar inspeção extraordinária nos 100 maiores contratos da Seduc, investigando sobrepreços, ineficiência e possíveis irregularidades. Desde 2020, os contratos da Seduc sob o governo Wilson Lima somam mais de R$ 1,99 bilhão, sendo que R$ 428,7 milhões foram destinados a programas de preparação para o Enem — sem qualquer melhora nos resultados educacionais.
Veja documentos:
O paradoxo é evidente: falta dinheiro para o básico, mas sobra para contratos de fachada e consultorias terceirizadas. A Seduc-AM, sob a gestão de Wilson Lima, tornou-se símbolo de ineficiência e prioridades invertidas, investindo mais em serviços burocráticos e consultorias externas do que na própria educação dos alunos.
Enquanto professores trabalham em condições precárias e escolas da capital e do interior sofrem com cortes, o governo destina recursos vultosos a uma empresa de shopping a mais de 2.000 quilômetros de distância, reforçando a percepção de uma política educacional que gasta mais com consultorias do que com alunos.
No fim, o governo que prometia “fazer mais com menos” parece seguir o caminho inverso: gasta mais, entrega menos e terceiriza a própria gestão pública.



