PF investiga desvio de recursos do MEC e mira ex-nora de Lula e ex-sócio de Lulinha em nova operação
Brasil – A Polícia Federal deflagrou, nesta quarta-feira (12), a Operação Coffee Break, para investigar o suposto desvio de recursos do Ministério da Educação (MEC) por meio de contratos superfaturados de kits de robótica e livros didáticos. Entre os alvos da ação estão Carla Trindade, ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e Kalil Bittar, ex-sócio de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, na empresa Gamecorp/Gol — já investigada na Operação Lava Jato.
A operação, revelada em reportagens do Estadão, cumpriu 50 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva em São Paulo, Distrito Federal e Paraná, sob ordem da 1ª Vara Federal de Campinas (SP). Os investigados podem responder por corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitação, lavagem de dinheiro, contratação direta ilegal e organização criminosa.
Ex-nora de Lula é apontada como lobista
De acordo com a PF, Carla Trindade, ex-mulher de Marcos Cláudio Lula da Silva (filho da ex-primeira-dama Marisa Letícia), teria sido contratada pelo empresário André Gonçalves Mariano, dono da Life Tecnologia Educacional, para atuar como lobista junto ao governo federal.
A investigação aponta que Carla “parece ter, ou alega ter, influência em decisões do governo federal, notadamente no FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação)”. No momento do cumprimento dos mandados, Marcos Cláudio estava na casa da ex-mulher, em Campinas.
A Life Tecnologia Educacional é suspeita de fornecer materiais superfaturados para prefeituras do interior de São Paulo — entre elas, Sumaré e Hortolândia — desviando parte dos recursos para empresas de fachada. O vice-prefeito de Hortolândia, Cafu César (PSB), e o empresário André Gonçalves Mariano foram presos preventivamente.
Ex-sócio de Lulinha recebia “mesada”, diz PF
Outro nome de peso na lista de investigados é Kalil Bittar, ex-sócio de Lulinha e irmão de Fernando Bittar, um dos proprietários do sítio de Atibaia, também envolvido em processos da Lava Jato. Segundo a PF, Kalil recebia uma “mesada” de Mariano para atuar politicamente em defesa dos interesses da empresa junto ao MEC e a órgãos controlados pelo governo.
“Em 28 de novembro de 2022, após o segundo turno das eleições, Mariano passa a apostar na influência de Kalil em ‘novos ministérios’, ‘MEC’ e ‘estados do PT’. É nesse período que ele começa a pagar a mesada, por vezes na conta da esposa de Kalil”, destaca o relatório policial.
Desvios prejudicaram políticas públicas, diz CGU
A Controladoria-Geral da União (CGU), que colaborou com a operação junto à Polícia Militar de São Paulo, reforçou em nota o impacto dos desvios:
“O desvio de verbas da educação pode ter um impacto significativo, pois impede que os recursos sejam aplicados em serviços educacionais essenciais para a população, especialmente nas escolas públicas que atendem comunidades de baixa renda”, afirmou o órgão.
Prefeituras se defendem e alegam colaboração
A Prefeitura de Sumaré confirmou o cumprimento de mandado de busca e apreensão, mas informou que os contratos sob investigação referem-se a gestões anteriores.
“O procedimento tem como foco contratos firmados em 2020, referentes à gestão anterior, e não diz respeito à atual administração”, informou a nota.
A administração municipal também declarou estar colaborando integralmente com a PF, “disponibilizando toda a documentação solicitada, com transparência e respeito à legalidade”.
Ex-prefeito ligado a Kassab também é investigado
Outro alvo da operação é o ex-prefeito de Limeira, Mário Celso Botion (PSD), atual diretor de Convênios da Secretaria de Governo de São Paulo, pasta comandada por Gilberto Kassab (PSD). Em nota, ele alegou que a contratação dos materiais ocorreu de forma “regular e transparente”.
“O processo de aquisição dos kits de robótica, material didático e capacitação de professores observou todos os princípios legais da administração pública”, disse.
Botion foi prefeito de Limeira entre 2017 e 2024 e pediu exoneração do cargo após ser alvo da operação.
O que é a Operação Coffee Break
A Operação Coffee Break é fruto de uma investigação conjunta da Polícia Federal e CGU, que identificou um esquema de corrupção em contratos de tecnologia educacional firmados com o MEC e prefeituras paulistas. O nome faz alusão a encontros entre lobistas e agentes públicos que, segundo a PF, serviam para negociar propinas e influência política em troca de contratos milionários.
A Justiça Federal também determinou a apreensão dos passaportes dos investigados. O caso segue sob sigilo judicial, e novas fases da operação não estão descartadas.


