Governadores se unem para apoiar Cláudio Castro em megaoperação contra o tráfico no RJ
Brasil – Em um gesto inédito de solidariedade interestadual, governadores de alguns dos estados mais populosos e influentes do Brasil anunciaram apoio irrestrito ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), após a megaoperação policial deflagrada na última terça-feira (28) contra o Comando Vermelho (CV). A ação, que resultou em 121 mortes – incluindo quatro policiais –, expôs a fragilidade das fronteiras no combate ao crime organizado e mobilizou líderes conservadores em uma frente unida.
Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, foi o articulador da iniciativa. Em nota exclusiva, ele “convocou” colegas para um encontro presencial no Palácio Guanabara, marcado para as 18h desta quinta-feira (30). “O combate ao crime organizado não pode ter fronteiras. É uma responsabilidade de todos os governos. Nossa proposta é ceder homens de nossas polícias, tanto em inteligência quanto em efetivo, para auxiliar o Rio neste momento crítico”, declarou Mello.
A adesão foi imediata. Ronaldo Caiado (UB), de Goiás, e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, confirmaram presença na viagem ao Rio. Caiado, que participou de uma videoconferência pela manhã com Castro e outros governadores, enfatizou a concentração de lideranças criminosas no estado fluminense. “O Rio de Janeiro hoje é o local onde todas as lideranças do Comando Vermelho do Brasil estão concentradas, porque ali eles têm um verdadeiro espaço dominado e imune a qualquer ação da Justiça ou da lei”, afirmou o goiano, destacando a necessidade de uma resposta nacional coordenada.
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo – a maior capital do país em população e PIB –, foi convidado para o encontro, mas ainda avalia a proposta. Fontes próximas ao paulista indicam que a decisão depende de agendas e da viabilidade logística, embora o secretário de Segurança Pública de SP, Guilherme Derrite, já tenha sinalizado apoio condicional. “Os esforços para contenção dessa crise vão acontecer por parte das forças do Rio. Eventualmente, se houver necessidade de apoio para patrulhamento em outras áreas, isso pode ser feito”, disse Derrite em Brasília, ao anunciar licença para relatar projeto de lei no Congresso.
A videoconferência matutina, realizada nesta quarta-feira (29), reuniu também Romeu Zema (Novo-MG) e Mauro Mendes (UB-MT), ampliando o debate para além do Sudeste. Participantes como Eduardo Leite (PSDB-RS) manifestaram solidariedade, enquanto Ratinho Jr., ausente por compromisso externo, se comprometeu a enviar tropas, conforme assessoria ao UOL.
Cláudio Castro descreveu o apoio como um “gesto histórico”. “O assunto foi 100% Rio de Janeiro e as lideranças criminosas que estão no estado. Eles acreditam que a solução do problema passa pelo Rio”, disse o governador a jornalistas. Castro lamentou a solitude do estado: “O Rio de Janeiro está sozinho”, reforçando apelos por recursos federais.
Críticas ao governo Lula intensificam o embate político
O movimento dos governadores ganha contornos políticos ao intensificar críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Caiado defendeu “aplauso nacional” à operação policial, enquanto Zema acusou o Planalto de abandonar as forças estaduais: “Mais uma vez, as polícias têm de enfrentar sozinhas essas facções terroristas”.
O governo federal rebateu alegando envio de recursos não integralmente utilizados pelo Rio e manutenção de equipes da Força Nacional desde 2023. Sobre blindados do Exército, o Ministério da Justiça reiterou que só podem ser cedidos via decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) – medida publicamente rejeitada por Lula.
Especialistas em segurança pública veem na união dos governadores um potencial modelo para operações interestaduais. “Blindados como o VBTP-MR Guarani são vitais em territórios dominados por facções. Essa cooperação pode ser o embrião de uma força-tarefa nacional”, analisa o coronel reformado da PM-RJ, José Vicente da Silva Filho.
A operação de terça-feira, uma das mais letais da história recente, expôs o domínio do CV em comunidades e rotas de tráfico. Com governadores das maiores capitais – São Paulo, Rio, Curitiba e Goiânia representam mais de 40 milhões de habitantes – unindo forças, o episódio marca um turning point na guerra contra o narcotráfico, desafiando o governo central a uma resposta à altura.
*Pedro Silva é repórter especial de Política e Segurança Pública, com foco em dinâmicas interestaduais.*



