Flórida vira novo front de disputa entre bancos digitais brasileiros
Mundo – A Flórida consolidou-se como o novo epicentro da disputa entre bancos digitais que operam na América Latina. Com mais de 16 milhões de imigrantes latinos e um mercado financeiro ainda sem um grande player dominante, o Estado virou terreno estratégico para gigantes como Nubank, Inter e Revolut, todos mirando a mesma oportunidade: conquistar o consumidor americano, começando justamente pelo público latino.
O ambiente competitivo ganha força diante da percepção de que fintechs dos EUA ainda oferecem serviços mais limitados que os vistos no Brasil. Entre os principais nomes locais estão Chime, SoFi e Cash App, todos com propostas segmentadas e longe do ecossistema completo que virou marca dos bancos digitais brasileiros.
Inter saiu na frente e quer dominar a Flórida
O Inter foi o primeiro banco brasileiro a desembarcar nos EUA ao comprar a fintech Usend em 2021. Hoje, soma 300 mil clientes em território americano, presença em 45 Estados e expectativa de cobrir toda a parte continental do país nos próximos anos.
A estratégia passa por ocupar as ruas de Miami: o banco espalhou quase 300 bicicletas pela cidade, abriu seu segundo café e fechou parcerias locais para ampliar benefícios aos usuários. A marca também lançou um app em espanhol e tornou-se a instituição bancária brasileira mais buscada no Google pelos americanos.
“Nossa tese é oferecer um app financeiro global a partir dos EUA”, explica Cássio Segura, líder da operação no país. Ele afirma que o Inter opera em modelo “asset light”, baseado em parcerias, o que reduz custos e amplia o alcance. O banco atende viajantes, investidores, trabalhadores globais e pequenas empresas — e já soma clientes de 15 nacionalidades. Em janeiro, inicia operação na Argentina, hoje em fase piloto.
Nubank disputa licença bancária e mira crescimento em escala
O Nubank entrou oficialmente no processo para obter licença bancária nos EUA. A cofundadora Cristina Junqueira mudou-se para Miami para acompanhar de perto o trâmite, que não deve ser concluído antes de 2026. Enquanto isso, rumores indicam que o banco negocia dar nome ao estádio do Inter Miami, onde joga Lionel Messi — um movimento simbólico numa disputa silenciosa com o Inter, patrocinador do Orlando City.
David Vélez, CEO global, reforça o tamanho da oportunidade: “Três Estados americanos — Flórida, Texas e Califórnia — têm PIB igual ou maior que o do Brasil. Mesmo um recorte desses mercados já seria uma nova curva de crescimento”. O executivo afirma que o potencial norte-americano supera o de países onde o Nubank já opera, como a Colômbia.
Revolut prepara entrada agressiva: ‘vai ser sangrento’
O britânico Revolut também entrou no radar dos EUA. Em plena expansão pela América Latina, a empresa reservou ao menos US$ 500 milhões para disputar o mercado americano — e já provoca os rivais.
No México, o CEO Juan Guerra descreveu a futura batalha direta com o Nubank como “sangrenta, intensa e maravilhosa”, e afirmou que milhões de usuários serão beneficiados pela competição. A fintech já avança também na Colômbia e mira os EUA com a mesma disposição.
Concorrência esquenta — e todos miram a Flórida
A convergência de estratégias coloca a Flórida no centro do mapa. O Estado tornou-se a porta de entrada ideal: grande fluxo de latinos, economia forte, turismo intenso e terreno fértil para produtos financeiros digitais.
Para o Inter, a chegada de rivais não é ameaça — é combustível. “Nós já competimos com eles no Brasil, vamos competir na Argentina e nos EUA. Tudo depende da proposta de valor, qualidade do produto e capacidade de investimento”, afirma Segura.
Kaio Philipe, diretor de expansão e marketing do banco, destaca que o jogo é global: “Quando colocamos nosso nome em um estádio, não é só para os 300 mil clientes que temos nos EUA. É sobre posicionamento, sobre construir marca mundial”.
Com três gigantes mirando o mesmo território e milhões de dólares em disputa, a Flórida se transforma no palco de uma das maiores batalhas do mercado financeiro digital, uma guerra que está só começando.


