Governo do Amazonas concentra bilhões da cultura na AADC com prestação de contas quase inexistente
Amazonas – O Governo do Amazonas, sob o pretexto de modernizar a gestão cultural, converteu a Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC) em uma espécie de caixa-preta das finanças públicas. Entre 2020 e 2025, a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (SECT) repassou à agência nada menos que R$ 1,6 bilhão — recursos que, na prática, circularam fora das regras usuais de controle e fiscalização, privilegiando contratos flexíveis e de rápida execução.
No papel, a lógica é simples: SECT transfere, AADC executa, “presta contas”. Na prática, esse caminho tornou-se o atalho preferencial para bancar shows, estruturas, artistas e projetos culturais inteiros, longe da burocracia que ainda engessa as secretarias tradicionais. O resultado é um modelo de gestão que mistura eficiência operacional com prestação de contas quase inexistente.
À frente da AADC está Edval Machado Júnior, que chegou prometendo “modernizar e criar mais transparência”. Entretanto, sob sua presidência, a agência formalizou aditivos milionários para empresas de eventos — contratos de R$ 1,4 milhão, R$ 769 mil e R$ 2,9 milhões — sem detalhar critérios ou justificativas públicas. A retórica de transparência contrasta fortemente com a realidade operacional da agência.
O modelo tem claros beneficiários políticos. Enquanto a AADC assume os custos altos, contratações polêmicas e riscos da execução, a SECT colhe os frutos em forma de marketing e visibilidade. O governo ganha agilidade, reduz exposição e promove a imagem de um setor cultural dinâmico, mas à custa da accountability — um termo sofisticado para o que, aqui, se traduz como prestação de contas efetiva.
Enquanto bilhões circulam quase sem controle, o setor cultural enfrenta problemas estruturais antigos: editais escassos, concentração de decisões e falta de democratização do acesso a recursos. O contraste evidencia uma escolha do governo: priorizar impacto político e velocidade de execução em detrimento da transparência e do fortalecimento real da cultura local.
No fim, a AADC funciona como o principal instrumento de execução da SECT, mas com pouca fiscalização e quase nenhuma transparência. A cultura, embora bem financiada, é gerida de forma que dificulta o acompanhamento público e a prestação de contas. Diante dos bilhões que circulam por essa agência, o governo precisa apresentar informações claras sobre como os recursos são aplicados e garantir que o setor cultural tenha acesso justo e transparente a esses investimentos.
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