Morre um dos ‘pais’ do Proálcool, Cícero Junqueira Franco, aos 84 anos
RIO — Cícero Junqueira Franco, o usineiro que contribuiu para que o etanol brasileiro se tornasse referência mundial ao participar da criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), morreu na noite de sexta-feira, aos 84 anos, em São Paulo.
O empresário estava internado há 203 dias no hospital Sírio-Libanês após ter sofrido fratura na coluna cervical quando caminhava no pomar de sua fazenda em Orlândia (SP). A causa da morte foi parada cardíaca em decorrência de uma septicemia.
Ao lado de outros empresários da indústria de cana-de-açúcar, Junqueira Franco assinou em 1973 o estudo “Fotossíntese como fonte energética”, que provava ser viável o uso do álcool como combustível. O setor enxergou uma oportunidade no primeiro choque do petróleo, quando a participação americana na Guerra do Yom Kippur levou produtores do mundo árabe a implementarem um embargo. Como resultado, o preço de barril de petróleo disparou de US$ 3 para US$ 12.
Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires Rodrigues, Junqueira Franco teve papel importante ao incentivar o governo federal a adotar a ideia e transformá-la em programa, em 1975.
— Ele foi um dos precursores e idealizadores do Proálcool. Pode-se dizer que foi um dos pais do programa, pois ajudou a convencer o governo a desenvolver um combustível alternativo, no momento em que o mundo enfrentava o primeiro choque dos preços do petróleo e o Brasil dependia de importações — destacou Adriano Pires.
Segundo um dos filhos do usineiro, Celso Torquato Junqueira Franco, nem mesmo a simplicidade do pai contia seu orgulho com a projeção internacional que o Proálcool alcançou. O empresário se queixava, porém, do desmantelamento sofrido pelo setor de etanol nos últimos anos, afetado sobretudo pela decisão do governo de segurar o preço da gasolina para controlar a inflação. Essa política retirou competitividade do etanol, que deve custar no máximo 70% do preço da gasolina para valer à pena para o consumidor.
— Ele sempre defendeu que o setor de etanol fizesse parte de uma estratégia energética do governo. Embora soubesse da importância de uma regulação mínima, ele lamentava a intervenção excessiva do governo no preço da gasolina, impossibilitando que o produtor de etanol preveja até mesmo o risco do seu negócio — contou o filho.
Nos últimos anos Junqueira Franco se dedicava às fazendas Barreiro e Diamante, onde, além de cana-de-açúcar, criava gado caracu, cavalos mangalarga e mangalarga marchador e jumento brasileiro. Segundo o filho, os cavalos eram a grande paixão do empresário.
— Era o seu hobby. Fazia cavalgadas de dezenas de quilômetros com a minha mãe. Ele era apaixonado pela fazenda, onde morava de verdade — contou.
O sepultamento ocorreu às 16h deste sábado no cemitério de Morro Agudo (SP), município onde fica a sede da usina Vale do Rosário, fundada por Junqueira Franco e que hoje integra a Biosev, uma das gigantes globais do segmento sucroalcooleiro. Junqueira Franco deixa quatro filhos, 12 netos e três bisnetos.