Greve de auditores trava bilhões: paralisação na Receita pode estar custando R$ 35 bilhões ao Brasil
Brasil – Enquanto o governo federal se vê encurralado na missão de zerar o déficit primário de 2025, uma bomba silenciosa cresce dentro da própria máquina pública: a paralisação parcial dos auditores fiscais da Receita Federal, iniciada em novembro do ano passado, pode estar travando uma arrecadação extra de até R$ 35,5 bilhões em 2025.
É o que aponta um estudo divulgado pelo Sindifisco Nacional, sindicato que representa a categoria, nesta terça-feira (1º). Segundo o levantamento, se os auditores voltassem a trabalhar em sua plena capacidade, o volume de recursos recuperado aos cofres públicos poderia chegar a R$ 53,3 bilhões ao longo dos próximos 12 meses.
O alerta soa ainda mais grave num momento em que o governo fracassou em aprovar o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e enfrenta resistência no Congresso para criar novas fontes de receita. A estimativa da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado aponta para um rombo de R$ 64,2 bilhões se nenhuma medida for adotada — e parte dessa solução está, literalmente, sentada atrás de uma mesa, em greve.
Salário congelado desde 2016
O estopim da paralisação parcial, que durou de 26 de novembro de 2024 até 10 de junho de 2025, foi o congelamento salarial da categoria. Os auditores, que hoje têm salário-base de R$ 22.921,71, cobram recomposição das perdas acumuladas desde 2016. Após uma decisão do ministro Benedito Gonçalves, do STJ, a greve foi suspensa, mas o retorno ao trabalho segue parcial e sem engajamento completo.
“Não existe arrecadação espontânea”
De acordo com Maria Regina Duarte, diretora de estudos técnicos do Sindifisco, é um erro estratégico ignorar o papel dos auditores na arrecadação:
“Não existe arrecadação espontânea. Ela é sempre induzida pela ação direta do fisco ou pelo risco de sua atuação. Ignorar isso é um grave erro de gestão tributária.”
Hoje, ações como fiscalização de grandes contribuintes, malha fina e julgamentos no Carf estão paradas ou funcionando em ritmo lento — o que representa um potencial represado bilionário. Veja abaixo a origem dos valores:
Grandes contribuintes: R$ 18 bilhões
Julgamentos no Carf: R$ 15,4 bilhões
Transações tributárias: R$ 6 bilhões
Combate a fraudes: R$ 4,1 bilhões
Julgamentos regionais: R$ 4,4 bilhões
Malha fina de PF: R$ 2,4 bilhões
Malha fina de PJ: R$ 2,1 bilhões
Glosas: R$ 1 bilhão
Governo sem plano B
Sem o reforço dos auditores e com as portas fechadas no Congresso para novos tributos, o governo Lula corre contra o tempo para fechar as contas e cumprir a promessa de zerar o déficit. O impasse com a Receita, porém, mostra que o problema não é apenas de arrecadação, mas de gestão.
A pergunta que fica: vale a pena manter paralisado o motor que poderia garantir bilhões aos cofres públicos em nome de uma economia salarial que pode custar ainda mais caro ao país?
Enquanto a resposta não vem, o Brasil perde tempo — e dinheiro.