Filhos do Janauacá: a história de batalha, autonomia e sucesso da família Atem; veja vídeo
Amazonas – A história do Grupo Atem começa longe dos grandes centros financeiros, em um cenário de luta e terra vermelha no Lago do Janauacá, a 124 quilômetros de Manaus. Foi ali, plantando mandioca e comercializando farinha e tucupi, que os filhos de um casal de sírio-libaneses absorveram uma lição crucial: a fragilidade de depender de intermediários. Essa percepção simples, aprendida no campo, tornou-se o motor de uma das ascensões mais notáveis do setor de combustíveis no Brasil.
A mudança de rumo começou com Dibo Atem, o irmão mais velho. Ao se mudar para Manaus e trabalhar em um posto flutuante — o popular “pontão” —, ele percebeu que o futuro da região não residia mais na roça, mas sim na energia que movimentava a Amazônia. A oportunidade estava na logística e no suprimento do combustível, e não na produção agrícola.
Em 1995, os irmãos abraçaram essa visão. Em vez de buscar capital de risco, eles buscaram controle. Alugaram um posto flutuante e, de forma improvisada, começaram a vender combustível. Quatro anos depois, já gerenciavam dez postos com a bandeira BR.
Em 2000, nasceu oficialmente a Distribuidora Atem. O início, porém, era um gargalo:
“No início, tudo era precário: operavam com tanques alugados e cada litro vendido dependia da estrutura de terceiros. A margem era mínima, e a dependência, total. Essa limitação acendeu a necessidade de construir algo próprio.”
A base para a construção de um império duradouro estava clara: não era suficiente vender o produto; era preciso controlar o processo.
A partir dessa clareza estratégica, os irmãos Atem deram uma série de passos calculados que os levaram à independência operacional. Cada movimento visava eliminar um intermediário e reter o valor na cadeia:
A Base Própria (2007): A inauguração da primeira base de distribuição em Manaus foi o marco inicial para cortar a dependência de armazenagem de concorrentes.
Dominando a Logística: A seguir, criaram a Navemazônia e a Rodoamazônia, assumindo o transporte fluvial e rodoviário. O que antes era terceirizado, e um dreno de valor, tornou-se um ativo estratégico.
Controle dos Meios de Produção: O terceiro e mais ousado movimento foi a fundação do estaleiro DMN. Com ele, a Atem passou a fabricar suas próprias embarcações. Os irmãos deixavam de ser clientes para se tornarem donos dos meios de produção.
O pensamento estratégico era evidente: “Os irmãos entenderam que cada intermediário na cadeia é um dreno de valor. E que independência operacional é sinônimo de liberdade econômica.”
O ápice dessa jornada de controle veio em 2022. O golpe final, no valor de 189,5 milhões de dólares, foi a compra da Refinaria de Manaus (Reman), que pertencia à Petrobras.
Essa aquisição não apenas transformou a Atem, uma empresa regional, em uma potência nacional (com bases em 14 estados e mais de 350 postos), mas também fechou o ciclo de autonomia sonhado pelos irmãos.
Hoje, a Atem controla o negócio desde o refino até o posto de gasolina. É o triunfo da visão sistêmica sobre o capital de risco. Na Amazônia, essa narrativa tem uma força simbólica poderosa: é um grupo local assumindo o comando de uma antiga estrutura estatal. É o interior tomando as rédeas da própria energia.
A lição da família Atem é definitiva: a autonomia deixou de ser uma palavra bonita e se consolidou como uma estratégia concreta de sobrevivência e impacto. Quem controla a base, define o futuro.


