Brasil amarra economia com juros altos enquanto países vizinhos aceleram recuperação econômica
Brasil – Enquanto países vizinhos avançam em ciclos de cortes de juros e estimulam suas economias, o Brasil segue isolado com uma das maiores taxas básicas do mundo. A Selic permanece em 15% ao ano — quase quatro vezes maior que a taxa chilena, atualmente em torno de 4% — e sem perspectiva imediata de redução significativa.
Economistas apontam que o principal vilão da história é o elevado endividamento público. Dados do Banco Central revelam que a dívida bruta do governo atingiu 78,1% do PIB em setembro, índice bem acima de países latino-americanos: 61% na Colômbia, 33% no Peru, 44% no Chile e 57% no México.
Segundo Jason Vieira, economista-chefe do Grupo Lev, o tamanho e o custo da máquina pública tornam o Brasil estruturalmente pressionado por juros altos.
“Quanto maior o Estado, maior o custo. Ele gasta mais do que arrecada e depende do mercado de títulos. Isso aumenta o risco percebido pelos investidores e, consequentemente, a taxa de juros”, explica. Para ele, a economia brasileira segue girando em torno do Estado, e não da produtividade e investimento privado.
Outro fator que impede o alívio monetário é a forte indexação da economia — prática em que contratos acompanham índices de inflação. Rafael Arantes, da Country Manager, destaca que cerca de 35% dos contratos no país ainda são indexados, desde aluguéis e planos de saúde até tarifas públicas.
“Essa inércia inflacionária exige uma taxa de juros mais alta para ser controlada”, diz.
Estrutura econômica desfavorável
Além do peso da dívida e da indexação, o modelo econômico brasileiro, com forte presença estatal, contrasta com vizinhos como o Chile — de perfil liberal — e o México, altamente integrado à economia dos Estados Unidos. Economias menores, como a colombiana, também tendem a operar com taxas menores devido ao menor risco percebido.
Capital entra, mas não movimenta a economia real
Embora juros altos atraiam capital estrangeiro, especialistas afirmam que o dinheiro entra majoritariamente para financiar a dívida por meio da compra de títulos públicos, e não para estimular investimentos produtivos.
“Tem mais dinheiro girando, mas não de verdade”, resume Vieira.
Tamanho ainda é trunfo
Mesmo com juros nas alturas, o Brasil segue relevante na região e mantém vantagem estrutural: uma economia robusta, ampla população, posição estratégica e influência política na América Latina. Isso garante ao país atenção global — mas à custa de um crescimento travado e crédito caro para empresas e famílias.
Até que o país avance em ajuste fiscal, reduza a dependência do Estado e rompa a cultura de indexação, especialistas veem pouco espaço para seguir o caminho de vizinhos que já começam a respirar com juros mais baixos.


