Banco Central pode mudar compromissadas
BRASÍLIA – As medidas de estímulo à economia abordadas, mas não detalhadas, pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, em um evento ontem em São Paulo, abrangem, entre as possibilidades cogitadas, mexer em compulsórios. Segundo técnicos da área econômica, a ideia não é simplesmente aumentar a oferta de crédito para consumo, mas tentar direcionar a liberação de recursos para capital de giro e o setor imobiliário.
Nesse pacote, o governo também vai incluir uma mudança nas regras para administrar a liquidez no mercado. Nesse caso, o objetivo é reduzir o estoque das operações compromissadas e, assim, a trajetória de aumento da dívida bruta — principal indicador de solvência observado pelos investidores internacionais.
No caso das compromissadas, o Banco Central quer imitar o exemplo do Federal Reserve (Fed, o BC americano) e passar a aceitar depósitos e pagar correção sobre esses valores. Assim, ele não precisaria pegar títulos do Tesouro Nacional para operar no mercado e enxugar excessos de dinheiro na praça. Apenas por oferecer uma taxa atrativa, a autarquia conseguiria controlar o nível de moeda no país.
FORTALECIMENTO DA ÁREA SOCIAL
Desde que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) foi criada, o BC foi proibido de emitir os próprios títulos. Para “enxugar liquidez”, o banco faz as chamadas operações compromissadas. São operações de curtíssimo prazo em que o BC paga juros mais altos que os dos papéis e depois recompra os mesmos. Isso aumenta o endividamento do país.
Uma fonte ligada à Presidência da República disse que, para sair da crise, o Planalto encomendou medidas de estímulo à economia ao Ministério da Fazenda. A presidente Dilma Rousseff quer ênfase para a recuperação do investimento e o fortalecimento da área social. Apesar do esforço para encontrar formas de animar a economia, os técnicos convivem com um estado de paralisia.
— A crise política engoliu a economia — disse uma fonte.
Uma eventual ida do ex-presidente do BC Henrique Meirelles para a equipe econômica, como forma de ganhar maior credibilidade junto ao mercado — algo que agrada a Lula —, ocorreria mais à frente, se Dilma conseguir salvar seu mandato.
— Não vai ter marola. Se as centrais sindicais acham que o ministro Nelson Barbosa é liberal, imagina o que vão achar do Meirelles — afirmou um integrante do governo.