Agronegócio mantém patamar alto em 2025, mas clima pode freiar crescimento em 2026
Brasil – O ano de 2025 marcou um capítulo dourado para o agronegócio brasileiro, com uma safra recorde impulsionada por condições climáticas favoráveis e expansão de área plantada. No entanto, as projeções para 2026 apontam para uma estabilização, com crescimento modesto ou até estagnação no Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário. Economistas destacam que, apesar da manutenção em patamares elevados, a produtividade deve cair devido a irregularidades climáticas influenciadas pelo fenômeno La Niña.
Segundo dados recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgados em dezembro de 2025, a safra de grãos 2025/26 está estimada em cerca de 354,4 milhões de toneladas — um leve aumento de 0,6% em relação à temporada anterior. Esse volume é sustentado por uma expansão de 3% na área semeada, alcançando 84,2 milhões de hectares, mas compensada por uma redução na produtividade média, projetada em 4.210 kg por hectare (queda de cerca de 2,3% ante 2024/25).
A soja, carro-chefe do setor, deve atingir um novo recorde com aproximadamente 177 milhões de toneladas, beneficiada por um incremento de 3,3% na produção. Já o milho apresenta perspectiva de recuo, especialmente na segunda safra, puxando para baixo o desempenho geral dos grãos.
No âmbito macroeconômico, o PIB agropecuário cresceu expressivamente em 2025 — estimativas variam entre 9% e 11% —, contribuindo significativamente para o avanço da economia brasileira como um todo. Para 2026, instituições como o Ibre/FGV e o Itaú projetam um crescimento próximo de zero ou ligeiramente positivo (ao redor de 0,4% a 1%), refletindo a base alta de comparação e os riscos climáticos.
“Após um 2025 excepcional, com chuvas bem distribuídas e recuperação de áreas afetadas por eventos extremos anteriores, o setor entra em 2026 em um platô elevado”, explica uma analista do mercado agro. “A estabilidade não é sinônimo de crise, mas exige cautela, pois o agro já opera próximo ao seu potencial máximo sem investimentos adicionais em tecnologia e infraestrutura.”
Influência do La Niña e irregularidades no plantio
O principal fator de incerteza para 2026 é o La Niña, fenômeno de resfriamento das águas do Pacífico que tende a reduzir as chuvas no Sul do Brasil e causar irregularidades no Centro-Oeste e Sudeste. Embora de intensidade fraca, o evento já impactou o plantio da soja: em dezembro de 2025, a semeadura atingiu 90,3% da área prevista, com atrasos notáveis em regiões como Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais devido a chuvas mal distribuídas.
No Mato Grosso, maior produtor nacional, o plantio prolongado elevou a exposição das lavouras a pragas como mosca-branca e ferrugem asiática. Produtores locais estimam produtividades abaixo das expectativas iniciais, com médias ao redor de 60 sacas por hectare — inferior às 66 sacas da safra anterior.
Especialistas alertam que o La Niña pode persistir até fevereiro de 2026, afetando o desenvolvimento das culturas de verão e a janela ideal para a safrinha de milho. Regiões como Rio Grande do Sul e Paraná, historicamente vulneráveis a secas sob esse padrão climático, já registram preocupações com reservatórios e umidade do solo.
Por outro lado, áreas do Norte e Nordeste podem se beneficiar de precipitações mais regulares, favorecendo culturas como algodão e arroz.
Perspectivas econômicas e desafios à frente
Apesar da desaceleração projetada, o agronegócio deve continuar representando cerca de 25% do PIB brasileiro quando considerados os elos da cadeia (indústria e serviços relacionados). O setor ajudou a conter a inflação em 2025, com abundância de alimentos, mas riscos climáticos em 2026 podem pressionar preços de commodities como soja e milho.
Consultores enfatizam a importância de tecnologias de mitigação — como irrigação, cultivares resistentes e monitoramento climático — para minimizar perdas. “O clima sempre foi o grande variável no agro brasileiro, e 2026 não será diferente”, resume um especialista. “Mas com planejamento e resiliência, o setor pode manter sua relevância estratégica para a economia nacional.”
Em resumo, o agronegócio sai de um ano de glória para outro de consolidação, onde a gestão de riscos climáticos definirá o sucesso da safra. O Brasil permanece como potência global em grãos, mas o equilíbrio entre expansão de área e ganhos de produtividade será crucial para os próximos ciclos.


