Wilson Lima entrega por R$ 1,97 bilhão administração de hospitais do AM para instituto envolvido com mortes de bebês em SC
Amazonas – O governador Wilson Lima (UB) entregou à Organização Social (OS) Instituto de Desenvolvimento, Ensino e Assistência à Saúde (IDEAS) a gestão do Complexo Hospitalar da Zona Leste — que reúne o Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio Pereira Machado e o Hospital e Pronto-Socorro da Criança Zona Leste (HPSC) — por um valor total de R$ 1,969 bilhão. O contrato, com duração de 60 meses, foi formalizado por meio da Portaria nº 850/2025-GAB/SES/AM, publicada em 25 de setembro.
Com o novo modelo, o IDEAS passa a controlar diretamente toda a operação hospitalar dos dois maiores prontos-socorros da Zona Leste de Manaus. Isso inclui contratação de equipes médicas e de enfermagem, aquisição de equipamentos, gestão de cirurgias, UTIs e atendimento de urgência e trauma adulto e infantil — funções antes conduzidas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM).
Instituto já foi alvo de denúncias em Santa Catarina
O IDEAS, que hoje administra mais de 20 unidades de saúde no país, é citado em denúncias de mortes de bebês em hospitais de Santa Catarina por suposta negligência no atendimento. As acusações foram divulgadas em reportagens do Portal ND+ e do programa Domingo Espetacular, da Record TV, e levaram familiares das vítimas a cobrarem responsabilização e investigação sobre a conduta da organização.
Apesar da gravidade dos relatos, o governo do Amazonas optou por adjudicar o contrato bilionário à mesma OS, sem apresentar, até o momento, critérios públicos de avaliação de desempenho ou auditorias independentes que garantam a segurança e a transparência na execução dos serviços.
Contrato bilionário em meio à crise na saúde
A decisão de Wilson Lima ocorre em um momento de forte pressão sobre a credibilidade da gestão da saúde no Amazonas. Dias após a adjudicação do contrato ao IDEAS, o Ministério Público do Estado (MPE-AM) deflagrou uma operação para investigar contratos suspeitos dentro da própria SES, expondo falhas de controle e possíveis irregularidades na aplicação de recursos públicos.
O contraste chama atenção: enquanto a pasta é alvo de investigações, o governo transfere a operação de dois dos hospitais mais estratégicos do estado a uma entidade privada por quase R$ 2 bilhões, com pouca clareza sobre os mecanismos de fiscalização e de divulgação de resultados assistenciais.
Falta de transparência e controle social
O edital do chamamento público CP 02/2025 prevê auditoria e controle interno, mas não determina a publicação periódica de indicadores clínicos, como mortalidade evitável, taxas de infecção hospitalar, ocupação de UTI ou absenteísmo das equipes.
Sem transparência ativa, a sociedade e os órgãos de controle ficam sem ferramentas para acompanhar o cumprimento de metas e avaliar a qualidade do serviço prestado.
Especialistas defendem que, diante da relevância do contrato, o governo deveria instituir auditorias independentes, painéis públicos de desempenho e relatórios mensais de resultados — medidas essenciais para garantir segurança, eficiência e integridade na gestão dos hospitais.
Veja documentos:



