Taxa Selic volta para o nível da crise de Dilma, chegando aos 14,25%, maior patamar desde agosto de 2016
Brasil – A taxa Selic, principal instrumento de política monetária do Brasil, alcançou nesta quarta-feira (19/3) o patamar de 14,25% ao ano, o maior registrado desde agosto de 2016. O aumento, anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marca o terceiro ajuste consecutivo de 1 ponto percentual, consolidando uma escalada de juros que remete aos tempos da chamada “Crise de Dilma”, período de turbulência econômica que abalou o país na década passada.
O movimento já havia sido sinalizado pelo Banco Central em dezembro de 2024, quando o Copom traçou um plano para conter a inflação galopante que vem pressionando a economia brasileira. Com a decisão de hoje, a Selic retorna a níveis que evocam memórias de um passado recente de recessão, desemprego elevado e instabilidade financeira. Em 2016, sob o governo de Dilma Rousseff, a taxa chegou a picos semelhantes em meio a uma crise marcada por descontrole fiscal e queda na confiança dos investidores.
A sequência de altas – que soma 3 pontos percentuais desde o início do ciclo de aperto monetário – reflete a preocupação do Banco Central com o cenário inflacionário. Dados recentes apontam que o IPCA, índice oficial de inflação, segue acima da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), impulsionado por fatores como a alta dos combustíveis, a desvalorização do real frente ao dólar e o aumento dos custos de produção no setor agrícola.
O retorno da Selic a dois dígitos tem consequências diretas no bolso da população. O crédito fica mais caro, afetando desde financiamentos imobiliários até o uso do cartão de crédito e do cheque especial. Para as empresas, o custo de capital sobe, o que pode frear investimentos e contratações, acendendo o alerta para uma possível desaceleração econômica em 2025.
Por outro lado, o BC defende a medida como necessária para ancorar as expectativas de inflação e evitar um descontrole ainda maior. Em nota, o Copom destacou que “permanece vigilante” e que novos ajustes podem ocorrer caso o cenário não mostre sinais de estabilização. Analistas de mercado, no entanto, estão divididos: enquanto alguns veem o aperto como inevitável, outros temem que a dose elevada de juros possa sufocar a recuperação econômica ainda frágil após anos de instabilidade.
A comparação com a “Crise de Dilma” não é mera coincidência. Em 2015 e 2016, a Selic também foi mantida em níveis elevados – chegando a 14,25% – como resposta a uma inflação persistente e a uma crise de credibilidade do governo. Naquela época, o Brasil enfrentou uma recessão profunda, com o PIB encolhendo mais de 3% por dois anos consecutivos. Agora, embora o contexto político seja diferente, os desafios econômicos reacendem debates sobre a eficácia de políticas monetárias restritivas em momentos de fragilidade.
Para os economistas, o aumento da Selic seria um “remédio amargo, mas necessário”, numa tentativa de ter que lidar com uma inflação de oferta, agravada por choques externos e internos. Sem esse ajuste, existiria o risco de uma espiral inflacionária ainda mais danosa.
Com a Selic em 14,25%, o Brasil se posiciona novamente entre os países com as maiores taxas de juros reais do mundo, ajustadas pela inflação projetada. A decisão do Copom será acompanhada de perto por investidores e pelo mercado financeiro, que aguardam os próximos passos do Banco Central. A ata da reunião, a ser publicada na próxima semana, deve trazer mais detalhes sobre as perspectivas da autoridade monetária para o restante de 2025.