Rueda é acusado de ter liderado reunião com Beto Louco, chefe de facção, para a venda de empresa de gás
Brasil – O presidente do União Brasil, Antonio Rueda, teria atuado como intermediário em uma negociação envolvendo a venda de uma empresa de gás de cozinha ligada a dois suspeitos apontados como líderes de um esquema de lavagem de dinheiro associado ao PCC, segundo relatos de três fontes do setor que preferiram manter anonimato por temor de retaliação.
De acordo com as informações obtidas, em abril de 2024, Rueda teria convidado um executivo do setor de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) para uma reunião em Brasília com Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como “Beto Louco”, que se apresentou como investidor da TankGás.
Um mês depois, os ativos da empresa foram vendidos para a Consigaz, empresa paulista de atuação regional.
Beto Louco e Mohamad Hussein Mourad, apelidado de “Primo”, são investigados pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) por liderarem uma rede de lavagem de dinheiro envolvendo fraudes fiscais no setor de combustíveis e fundos de investimento da Faria Lima. Ambos estão foragidos da Justiça.
Fontes do setor afirmam que Rueda, Beto Louco e Primo compartilhavam jatos executivos operados pela mesma empresa de aviação, a TAP (Táxi Aéreo Piracicaba).
Um ex-piloto da companhia relatou à PF que Rueda seria sócio oculto de quatro aeronaves da empresa, informação negada pelo político.
Segundo as fontes, o encontro em Brasília tinha como objetivo apresentar uma proposta de compra da TankGás a grandes empresas de GLP, utilizando o executivo como intermediário.
Na ocasião, Beto Louco teria oferecido R$ 60 milhões pela operação, prometendo sair do mercado, mas o executivo recusou-se a atuar como porta-voz, impressionado com o envolvimento de Rueda.
Documentos consultados indicam que a empresa oficialmente representada na negociação foi a TankGás Comércio Varejista de Gás Liquefeito de Petróleo S/A, sediada em Jandaia do Sul (PR), aberta em fevereiro de 2020 e posteriormente renomeada para Petróleo Distribuidora de Petróleo.
O representante oficial, Antônio César Assunção, nega qualquer relação com Beto Louco ou Primo.
A TankGás passou a ser alvo de ações judiciais após se beneficiar de uma lei estadual que permitia encher botijões de outras marcas, contrariando a regulamentação federal da ANP. Sob pressão, Beto Louco e Primo decidiram vender a empresa com o apoio de Rueda.
Em maio de 2024, a venda foi concretizada para a Consigaz. Fontes afirmam que a operação funcionou como um “resgate do mercado”, já que a TankGás teria se concentrado exclusivamente nos revendedores da Consigaz, após enfrentar ações judiciais em São Paulo.
A empresa compradora declarou que a aquisição foi estratégica e negou qualquer negociação direta com os suspeitos.
Relatos ainda indicam que a TankGás envasava botijões no Paraná e os transportava para São Paulo, prática confirmada por um ex-motorista que trabalhou na empresa.
Ele descreveu rotinas de transporte e apontou irregularidades nos CNPJs utilizados pela companhia, ligando-os à sócia de Primo na G8 Log Serviços Ltda., envolvida em operações investigadas pela PF e pelo MP-SP.
O caso levanta questões graves sobre a presença de suspeitos de envolvimento com o crime organizado no setor de GLP, além do papel de políticos em negociações que podem favorecer indivíduos foragidos da Justiça.