“Que nem Davi e Golias”: Roberto Cidade usa toda estrutura política para roubar a autoria do projeto do CAIC dos autistas
Manaus – A inauguração do primeiro Centro de Atenção Integral à Criança (CAIC) voltado para o atendimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Amazonas, realizada nesta segunda-feira (28), se transformou em palco de disputa política entre dois nomes da base governista. De um lado, o presidente da Assembleia Legislativa, Roberto Cidade (União Brasil); do outro, o deputado estadual Mário César Filho (UB), autor original da proposta.
A briga escancarada pela “paternidade” do projeto chamou atenção nas redes sociais e bastidores da política amazonense. Apesar de o CAIC ser fruto de uma indicação formalizada por Mário César ainda em 2023 — promessa de campanha feita por ele em 2022 — Roberto Cidade tentou surfar na entrega e “roubar a cena” ao anunciar publicamente que a iniciativa partiu de seu mandato, em um gesto interpretado como oportunismo político.
“Que nem Davi e Golias”, definiu uma internauta nos comentários de uma postagem, ao fazer alusão à desproporção de forças entre os dois parlamentares. Enquanto Mário César, ainda em ascensão, representa um segmento específico com atuação sensível e de base popular, Roberto Cidade usa todo o peso da presidência da Aleam e a estrutura institucional da Casa Legislativa para tentar se apropriar da pauta e colher os louros da conquista.
A tentativa de capitalização por parte de Cidade, no entanto, remete a uma polêmica ainda viva na memória da população: durante as eleições municipais de 2024, ele foi duramente criticado após se referir ao próprio filho autista como “infelizmente autista” durante um debate transmitido ao vivo pela Band Amazonas. A fala foi amplamente condenada por movimentos de inclusão, mães atípicas e ativistas, sendo vista como capacitista e insensível. O episódio, considerado um dos principais fatores que minaram sua candidatura à prefeitura de Manaus, repercutiu nacionalmente em veículos como O Globo, UOL e CNN.
“Infelizmente, o meu filho também é autista”, disse Roberto Cidade, na época, em um tom que gerou revolta. O comentário foi imediatamente repreendido por Amom Mandel, também candidato no debate, e caiu como uma bomba entre mães de crianças autistas.
O episódio recente da disputa pelo CAIC reacendeu críticas sobre a postura de Cidade em relação à causa autista. Para muitas famílias, soa contraditório que alguém que demonstrou tamanha insensibilidade tente agora vestir a camisa de defensor da inclusão.
Mesmo diante da tensão, o cerimonial do governo precisou dar espaço aos dois deputados durante a solenidade de entrega do centro, em uma tentativa de evitar atritos públicos dentro da base aliada do governador Wilson Lima. A manobra, no entanto, não impediu que a guerra de narrativas tomasse conta da internet.
Para os defensores da causa, o importante é que o CAIC comece a funcionar o quanto antes e com qualidade. Mas nos bastidores da política, a disputa por holofotes parece falar mais alto do que o compromisso com as famílias que realmente precisam do serviço.






