“O natal chegou mais cedo!”: Seduc-AM gasta quase R$ 3 milhões comprando microcomputadores
Manaus – Em um momento de forte escrutínio sobre a qualidade do ensino no estado, que amargou o último lugar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar do Amazonas (Seduc-AM) formalizou um contrato milionário para a aquisição de microcomputadores. A compra, no valor de R$ 2,7 milhões, chama a atenção não apenas pela cifra, mas pelo momento inusitado de sua efetivação: a menos de dois meses para o encerramento do ano letivo de 2025.
O acordo, identificado pelo contrato nº 105/2025 e publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), foi firmado com a empresa manauara Suprihouse Informática Comércio e Serviços Ltda. O que agrava as dúvidas sobre o planejamento da pasta é o prazo de vigência estipulado no documento: apenas três meses, um período que ultrapassa o calendário escolar vigente e levanta suspeitas sobre a real urgência da aquisição.
Oficialmente, a Seduc-AM justifica a compra como uma necessidade para atender às demandas do Programa Escola em Tempo Integral (ETI). Segundo extrato publicado no Portal da Transparência, a contratação visa suprir as unidades com equipamentos de tecnologia, com base em um estudo técnico e adesão à Ata de Registro de Preço nº 0247/2024-1-e-Compras/AM.
No entanto, a justificativa não explica a razão de uma compra tão vultosa ser realizada na “bacia das almas” do ano letivo. Especialistas em gestão pública apontam que aquisições dessa natureza, especialmente para programas contínuos como o de tempo integral, deveriam ocorrer com planejamento no início do ano, garantindo a utilização pedagógica imediata pelos alunos e professores ao longo do período letivo.
Nota da Seduc
Confrontada, a Seduc-AM emitiu uma nota afirmando que o processo licitatório seguiu todos os trâmites legais e que a empresa vencedora, Suprihouse Informática, cumpriu os requisitos. A secretaria argumenta que “a necessidade da administração pública não se esgota com o fim do ano letivo, mas se projeta para os anos subsequentes” e que os equipamentos possuem vida útil de quatro a cinco anos. A pasta finaliza, prometendo que mais de 13 mil alunos de 29 escolas serão beneficiados.
Apesar da justificativa, a falta de planejamento prévio fica evidente. A projeção para “anos subsequentes” não invalida o questionamento sobre por que a compra não foi efetuada em um momento mais estratégico, como durante as férias ou no início do primeiro semestre, para impactar o desempenho dos alunos no ano corrente.
A Empresa Vencedora
A Suprihouse Informática Comércio e Serviços Ltda, com sede no bairro Adrianópolis, em Manaus, atua no mercado desde 2001. Com um capital social de R$ 2,4 milhões, valor próximo ao do contrato firmado, a empresa tem como sócios Charles de Carvalho Nunes e Alfredo Assante Dias Junior.