Ministro dos Transportes do Governo Lula promete licença da BR-319 para o início de 2026
Brasil – A novela da BR-319 ganhou mais um capítulo nesta quarta-feira (10), com o ministro dos Transportes, Renan Filho, garantindo que o governo Lula finalmente pretende liberar o licenciamento do trecho do meio da rodovia nos primeiros meses de 2026. A promessa vem justamente no ano em que o presidente tentará a reeleição para um quarto mandato — e reacende as expectativas (e desconfianças) de quem acompanha décadas de promessas não cumpridas sobre a estrada.
Segundo Renan Filho, 2026 será “o marco do reinício das obras” no trecho mais crítico da rodovia, aquele que mantém Manaus praticamente isolada do restante do país.
“Esperamos ter o licenciamento do trecho do meio no início do ano que vem para licitar e iniciar as obras. 2026 vai marcar o reinício da pavimentação para tirar Manaus do isolamento”, afirmou o ministro.
Licenciamento parado e burocracia que não anda
Apesar do discurso empolgado, a realidade é bem menos animadora. O processo de licenciamento segue travado no Ibama porque o DNIT — órgão responsável pela obra — não entregou toda a documentação exigida.
Faltam consultas com comunidades indígenas afetadas, estudos complementares e medidas socioambientais.
Sem isso, o processo simplesmente não avança.
O trecho do meio até tem Licença Prévia, concedida ainda em 2022, mas a tão esperada Licença de Instalação — necessária para o início efetivo das obras — nunca saiu do papel.
Governo avalia usar a Licença Ambiental Especial (LAE)
Pressionado, Renan Filho admitiu que o governo estuda usar a nova Licença Ambiental Especial (LAE), aprovada pelo Congresso, para acelerar o processo.
O modelo pode encurtar o licenciamento para até 12 meses em casos que já possuem viabilidade ambiental reconhecida — como é o caso da BR-319.
“Vamos trabalhar nos dois caminhos, o tradicional e o da LAE. O que garantir a licença mais rápido será utilizado”, disse.
A estrada que virou discurso político
O ministro voltou a citar o colapso do oxigênio na pandemia para defender a pavimentação da BR-319, repetindo o discurso usado por candidatos do Amazonas em 2022.
Ele afirmou que a falta de acesso por terra dificultou o transporte do insumo durante a crise sanitária.
Também reforçou que Manaus é “uma das únicas grandes cidades do mundo” sem ligação terrestre asfaltada com o restante do país.
Obras pontuais e realidade bem diferente do discurso
Renan Filho enalteceu obras em andamento, como a entrega da ponte sobre o rio Curuçá, a previsão de entrega da ponte de Autaz-Mirim e o início de pavimentação de um trecho de 50 km após 15 anos sem avanços.
Mas quem usa a estrada sabe que a situação é outra: atoleiros, pontes precárias e trechos intrafegáveis, principalmente no inverno amazônico.
Na semana passada, moradores do distrito de Realidade chegaram a bloquear uma ponte em protesto pelas péssimas condições de acesso.
Promessa repetida e atrasos acumulados
O governo Lula já havia prometido recuperar a BR-319 em 2023, quando criou um grupo de trabalho para avaliar a viabilidade da estrada.
Em 2024, o Ministério dos Transportes publicou um relatório indicando que a rodovia é viável e estabelecendo um cronograma — que, na prática, não foi cumprido.
Mais de um ano depois, o DNIT ainda não entregou os documentos necessários ao Ibama.
Pressão ambiental cresce junto com as promessas
Enquanto o governo promete acelerar, a pressão ambiental aumenta. Após a visita de Lula ao Amazonas em 2024, o desmatamento ao longo da BR-319 disparou 85,2% entre setembro e dezembro.
Nos municípios do Interflúvio Madeira-Purus, o aumento chegou a 67% em abril de 2025.
O avanço da degradação reforça o alerta: sem fiscalização e planejamento, a retomada das obras pode agravar ainda mais a situação ambiental.


