Jatinhos atribuídos a Rueda somam R$ 60 milhões e têm ligação com contador que controla empresas alvo da PF
Brasil – A Polícia Federal investiga a ligação do presidente do União Brasil, Antônio Rueda, com um conjunto de jatinhos avaliados em mais de R$ 60 milhões e registradas em nome de empresas de fachada, fundos de investimento e até mesmo de um contador com histórico de negócios suspeitos. O caso é apurado no contexto das operações Carbono Oculto e Tank, que desmantelam um esquema de lavagem de dinheiro atribuído à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
O nome de Rueda apareceu com força nas investigações a partir do depoimento do piloto Mauro Caputti Mattosinho, que afirma ter transportado dezenas de vezes líderes do esquema de lavagem de dinheiro ligado ao PCC e que relatou ouvir de seu chefe, dono da empresa Táxi Aéreo Piracicaba (TAP), que Rueda encabeçava um grupo “com muito dinheiro que precisava gastar” em aeronaves.
O depoimento explosivo do piloto
Em entrevista exclusiva ao ICL Notícias, confirmada em depoimento prestado à PF há 17 dias, Mattosinho contou que os jatos eram atribuídos internamente a Rueda. Segundo ele, a TAP viveu um período de “boom” justificado pela entrada desse grupo:
“Era um grupo muito forte, encabeçado pelo Rueda, que vinha com muito dinheiro que precisava gastar. Então, a aquisição de várias aeronaves foi financiada”, afirmou o piloto.
Mattosinho trabalhou na TAP de 2023 até o início deste mês, quando pediu demissão após transportar parentes de Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco, para o Uruguai na véspera de uma megaoperação da PF. Ele disse ainda ter feito ao menos 30 voos com Beto Louco e Mohamad Hussein Mourad, o Primo, apontados como líderes do esquema e hoje foragidos.
O piloto também relatou ter levado em voo uma sacola que aparentava conter dinheiro vivo, no mesmo dia em que ouviu Beto Louco mencionar um encontro com o senador Ciro Nogueira (PP-PI). O parlamentar nega envolvimento, acionou a Justiça contra o ICL Notícias e afirma não ter qualquer proximidade com os investigados.
Aviões em nome de terceiros
As quatro aeronaves atribuídas a Rueda são:
Raytheon R390 (PR-JRR) – registrado na Fênix Participações, controlada pelo advogado Caio Vieira Rocha (filho do ex-ministro César Asfor Rocha), pelo ex-senador Chiquinho Feitosa e por empresários pernambucanos. Foi adquirido por cerca de R$ 13 milhões em outubro de 2024. Vieira Rocha nega qualquer ligação de Rueda com a aeronave.
Cessna 560 XL (PR-LPG) – avaliado em R$ 12,5 milhões, está em nome da Magic Aviation, presidida pelo contador Bruno Ferreira Vicente de Queiroz, que aparece como dirigente em pelo menos 15 empresas e está ligado a empresários investigados em outras operações da PF.
Cessna Citation J2 (PT-FTC) – comprado em 2023 por R$ 13,7 milhões e registrado na Serveg Serviços LTDA, em Imperatriz (MA). A sócia formal da empresa nega conhecer tanto a firma quanto o avião.
Gulfstream G200 (PS-MRL) – avaliado em R$ 21,2 milhões, registrado na Rovaniemi Participações S.A., empresa com capital social de apenas R$ 100, também ligada ao contador Bruno Queiroz.
Segundo apurações do UOL e do ICL Notícias, duas dessas aeronaves estão associadas a fundos de investimento controlados por um único cotista — cuja identidade não é divulgada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
TAP: elo entre aviões e PCC
A TAP (Táxi Aéreo Piracicaba) é o fio condutor entre todos os jatos. A empresa, que em 2023 operava cinco aeronaves e hoje administra dez, é de propriedade do empresário Epaminondas Chenu Madeira. Conversas obtidas pelo ICL mostram Epaminondas se queixando da pressão de “Beto” e “Moha”, apelidos de Beto Louco e Primo, em mensagens de WhatsApp.
A TAP nega conhecer declarações de funcionários e afirma atuar “em observância à lei”. Disse ainda que não tinha ciência do envolvimento de investigados até a deflagração da operação Carbono Oculto.
Rueda nega categoricamente
Antônio Rueda, por sua vez, nega qualquer participação na compra de aeronaves ou vínculo com investigados. Em nota oficial, disse “repudiar com veemência” as acusações, reafirmou que utiliza voos comerciais e admitiu apenas ter fretado aeronaves particulares em ocasiões pontuais.
“Jamais participei da compra de aeronaves”, declarou. “Meu nome foi suscitado em um contexto absolutamente infundado. Tomarei todas as medidas cabíveis para proteger minha reputação.”
Investigações em aberto
Apesar de, até agora, Rueda não ser formalmente investigado, a Polícia Federal não descarta abrir um inquérito específico contra ele caso surjam mais evidências. O uso de fundos de investimento como ferramenta de ocultação patrimonial é um dos principais alvos da PF nas recentes operações contra o PCC.
A denúncia do piloto Mattosinho, somada ao rastro de empresas de fachada e fundos obscuros, reforça a suspeita de que parte da frota da TAP, avaliada em dezenas de milhões de dólares, tem como real beneficiário o presidente do União Brasil.
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