Ficou na promessa: há quatro anos, Wilson Lima deixa policiais sem farda, sem salário digno e sem respeito
Amazonas – Policiais militares do Amazonas denunciam que há quatro anos não recebem o fardamento fornecido pelo Estado e, em muitos casos, têm de pagar do próprio bolso para trabalhar, situação que vem gerando revolta e sensação de abandono dentro da corporação.
A denúncia ocorre em meio a outras insatisfações da categoria, como o atraso da data-base — o reajuste salarial anual garantido por lei, mas não cumprido desde 2021.
O último fardamento entregue aos militares foi em 2019, ainda no início da gestão de Wilson Lima (União Brasil). Desde então, policiais relatam que precisam adquirir peças por conta própria, em lojas especializadas, gastando parte do próprio salário para manter a padronização exigida nos serviços.
“A gente paga para trabalhar. A farda é cara, e o Estado finge que não vê. Muitos colegas estão endividados, porque não têm escolha”, disse um sargento que preferiu não se identificar por medo de retaliações.
O governo do Amazonas chegou a anunciar, em diversas ocasiões, o pagamento do chamado abono-fardamento, uma indenização destinada à compra do uniforme.
Em maio deste ano, Wilson Lima afirmou que cerca de 9 mil policiais e bombeiros seriam contemplados com o benefício. No entanto, parte dos militares afirma não ter recebido o valor ou o considera insuficiente diante do preço atual dos equipamentos.
Além da falta de fardamento, os militares também reclamam da ausência de reposição inflacionária. A data-base — reajuste anual obrigatório previsto em lei — não é aplicada integralmente há quatro anos, o que, segundo associações da categoria, causou perda de mais de 25% no poder de compra.
“O policial está na rua arriscando a vida e não tem nem uniforme digno, nem salário atualizado. Isso é um desrespeito”, criticou um representante da Associação dos Praças da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Amazonas (APPMAM).
Apesar disso, associações de policiais classificam a medida como “paliativa e insuficiente”, já que o projeto não cobre os anos anteriores de defasagem e não trata das condições de trabalho diárias.
O cenário expõe o colapso silencioso da estrutura da segurança pública no Amazonas. Enquanto o governo promete medidas graduais, a tropa enfrenta diariamente a realidade de pagar para servir, em meio ao aumento da criminalidade e à precarização do serviço público.