Exército não foi informado sobre prisão de Bolsonaro e ala militar demonstra insatisfação com tratamento a oficiais
Brasil – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a cumprir, neste sábado (22), prisão preventiva na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde já está instalado em uma sala especial — a chamada sala de estado maior — equipada com cama, televisão e ar-condicionado. A audiência de custódia está prevista para este domingo, ao meio-dia.
Apesar da estrutura montada pela PF, fontes ligadas ao alto comando do Exército afirmam que a corporação não foi consultada previamente sobre a detenção do ex-presidente e foi “surpreendida” pela operação. Segundo militares, não houve qualquer orientação interna do Exército para eventual preparação de cela ou apoio logístico, algo que contrasta com a prisão do tenente-coronel Mauro Cid, quando uma cela chegou a ser organizada pela Força.
A expectativa dentro do quartel-general era de que a prisão só seria cogitada após o esgotamento de recursos no Supremo Tribunal Federal (STF). Com a decisão repentina, não houve tempo para que o Exército se organizasse para receber Bolsonaro, que é militar da reserva.
Insatisfação cresce entre grupos de militares
A decisão que ordenou a prisão preventiva de Bolsonaro alegando risco à ordem pública e possível violação da tornozeleira eletrônica, repercutiu de forma negativa entre diversas alas da ativa e da reserva.
De acordo com relatos obtidos pela reportagem, há um clima de crescente descontentamento com o comando do Exército, chefiado pelo general Tomás Paiva. Para parte da tropa, Paiva estaria adotando uma postura considerada “conivente” com o que chamam de perseguição a integrantes das Forças Armadas envolvidos em investigações relacionadas ao ex-presidente.
Entre os pontos de desgaste citados por militares está a operação que apreendeu o celular do tenente-coronel Mauro Cid em março do ano passado — ato que, segundo eles, teria sido permitido pelo general Paiva e que desencadeou uma sequência de investigações e prisões de oficiais.
“O Alto Comando se afastou da realidade da tropa”, afirmou um coronel à reportagem, sob condição de anonimato. Entre sargentos, tenentes e oficiais intermediários, cresce a avaliação de que generais estariam mais preocupados em preservar cargos estratégicos e missões no exterior do que em defender seus pares.
Operação dividiu a caserna
Diferentemente de outras situações envolvendo militares de alta patente, desta vez não houve articulação interna para apoiar o ex-presidente. A ausência de consulta ao Exército sobre uma possível estrutura de custódia para Bolsonaro também é vista como um sinal de enfraquecimento da influência política da instituição.
O episódio aprofunda o distanciamento entre o comando da Força e setores mais alinhados ao ex-presidente, que agora observam a prisão como um marco de tensão institucional e de perda de protagonismo dos militares no debate nacional.
Enquanto isso, Bolsonaro seguirá sob custódia na PF, onde aguarda a audiência que definirá a manutenção ou não de sua prisão preventiva.


