Ex-diretor do INSS admite ter recebido R$ 2 milhões de empresas ligadas ao esquema
Brasil – O ex-diretor de Governança, Planejamento e Inovação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alexandre Guimarães, admitiu ter recebido mais de R$ 2 milhões de empresas ligadas a Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”. O empresário é apontado como o principal articulador de um esquema bilionário de descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
Apesar do vínculo financeiro, Guimarães negou qualquer envolvimento com as fraudes. Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, realizado nesta segunda-feira (27), ele afirmou que o valor foi pago por serviços de educação financeira prestados à Brasília Consultoria, uma das empresas controladas por Antunes.
“Eu não cometi irregularidades. Eu só prestei serviços para a Brasília Consultoria e tenho notas fiscais que comprovam isso”, declarou Guimarães.
Sem recorrer ao habeas corpus, o ex-diretor respondeu a todas as perguntas dos parlamentares. Segundo ele, sua empresa, a Vênus Consultoria, foi criada em 2022 e encerrada neste ano, após a deflagração da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal (PF) em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), que desmantelou a rede criminosa.
Durante a oitiva, o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), questionou a origem dos pagamentos e a relação direta com o chefe do esquema.
“Esses mais de R$ 2 milhões recebidos do chefe da organização criminosa, que desviou recursos de aposentados e pensionistas, em algum momento dizem respeito a vantagem indevida?”, perguntou Gaspar.
Guimarães respondeu: “Nenhuma. Eu não recebi do senhor Antônio. Eu recebi da empresa para a qual prestei serviço.”
O ex-diretor também confirmou que Rubens Oliveira Costa, apontado pela PF como operador financeiro do grupo, o ajudou a abrir a Vênus Consultoria. Além disso, o contador da empresa, Alexandre Caetano, também atuava nas empresas de Antunes — coincidência que levantou desconfiança entre os parlamentares.
Guimarães relatou ainda que conheceu o “Careca do INSS” em 2022, por meio de amigos em comum, mas negou qualquer relação entre o encontro e sua atuação no órgão. Ele destacou que sua trajetória no INSS começou em 2017, quando foi indicado pelo então deputado André Moura (SE), e que retornou ao cargo em 2021 por indicação do deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG).
“Eu não tenho relacionamento com políticos. Apenas enviei meus currículos, que acabaram chegando à liderança do governo”, afirmou o ex-diretor.
Ao encerrar a sessão, o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), disse que o depoimento será cruzado com os documentos já reunidos pela comissão.
“A cada testemunha que presta depoimento, novas conexões surgem. Nosso trabalho é entender como o esquema se estruturou dentro do INSS”, declarou Viana.
A CPMI do INSS segue investigando como empresas privadas, consultorias e servidores públicos teriam se associado para descontar valores indevidos diretamente de benefícios previdenciários, atingindo milhares de aposentados em todo o país.



