Escândalo: conheça a empresa que já recebeu mais de R$ 44 milhões da SEDUC-AM para “limpar escolas” sem licitação
Amazonas – Em um novo capítulo que escancara os bastidores da gestão pública no Amazonas, a Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar (Seduc-AM) volta a protagonizar uma situação que levanta sérias dúvidas sobre o uso do dinheiro público.
A pasta, que deveria zelar pela qualidade da educação no estado, dispensou licitação e firmou dois contratos milionários com a empresa Tupi Locações e Serviços Técnicos LTDA, somando impressionantes R$ 44.062.624,19.
Tudo isso sob a justificativa de serviços de limpeza e conservação das escolas estaduais — por um período de apenas seis meses.
O nome da empresa pode soar familiar. E não à toa. A Tupi Locações, cujo ramo principal de atividade é serviços combinados de escritório e apoio administrativo, é uma figurinha carimbada nas páginas do Portal da Transparência, aparecendo em nada menos que 24 dispensas de licitação envolvendo a mesma secretaria.
Contratos bilionários para serviços básicos?
O mais recente documento publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), revela que o contrato n.º 79/2025, assinado no dia 30 de julho, destina à empresa R$ 23.503.303,79.
Poucos dias antes, a mesma Tupi já havia embolsado R$ 20.559.320,40 para executar exatamente os mesmos serviços — totalizando os já citados R$ 44 milhões.
Tudo isso para “limpeza e conservação” de escolas públicas. No entanto, a Seduc-AM não informa no contrato quais unidades de ensino foram atendidas ou quais ainda receberão os serviços.
Não há metas, cronogramas detalhados nem critérios de fiscalização claramente definidos nos documentos acessíveis ao público.
Empresa de “serviços de escritório” ganha sem concorrência
Outro dado que chama atenção é o ramo de atuação da empresa contratada. Registrada sob o CNPJ 08.840.355/0001-09, a Tupi Locações e Serviços Técnicos LTDA (nome fantasia: Tupi Comércio e Serviços Ltda), tem como atividade principal a prestação de serviços de escritório e apoio administrativo — nada que a relacione diretamente a serviços de limpeza ou conservação predial.
Mesmo assim, a empresa foi favorecida pela Seduc-AM com dispensas sucessivas de licitação.
O contrato milionário foi celebrado sem concorrência pública, mecanismo que deveria ser excepcional, mas que parece ter se tornado regra quando se trata da Tupi.
Quem são os donos?
A Tupi tem sede na Avenida Nathan Xavier de Albuquerque, nº 18, bairro Novo Aleixo, em Manaus. Seu capital social declarado é de R$ 2,5 milhões, e os sócios responsáveis são João Lúcio Braz Corrêa e Gary Lineker de Oliveira Gama.
Apesar do nome curioso de um dos sócios, o que realmente chama atenção é a constância com que a empresa aparece nas planilhas da gestão estadual, sempre levando cifras milionárias.
Falta de transparência e fiscalização
A Seduc-AM, além de não detalhar quais escolas foram beneficiadas, também não apresentou nenhum relatório técnico ou auditoria que comprove a efetiva prestação dos serviços.
O volume financeiro envolvido, associado à falta de concorrência pública e ausência de critérios objetivos, levanta suspeitas de favorecimento, má gestão de recursos e possível direcionamento de contratos.
Diante de tantos indícios, cresce a pressão para que o Ministério Público do Estado (MP-AM), o Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) e até a Controladoria-Geral da União (CGU) atuem com rigor.
A repetição desse modelo de contratação sem transparência abre espaço para apadrinhamentos, desvios e desperdício de dinheiro que deveria estar na sala de aula, e não nos cofres de uma empresa de escritório.
Enquanto faltam carteiras, merenda e infraestrutura básica em diversas escolas da rede estadual, milhões escorrem pelos ralos de contratos obscuros. A pergunta que não quer calar: quem está limpando o quê, e a que custo?
Veja documentos






