Empresas que organizam o JEAs recebem mais R$ 8,4 milhões do Governo Wilson Lima
Manaus – A gestão do governador Wilson Lima (União Brasil) segue mantendo gastos milionários com eventos esportivos e materiais promocionais por meio da Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar (Seduc-AM). Entre 2024 e 2025, a pasta destinou mais de R$ 8,4 milhões a duas empresas ligadas à realização dos Jogos Escolares do Amazonas (JEAs), Jogos da Juventude, Jogos da Escola Estadual Augusto Carneiro (JEAC’s) e Paralimpíadas Escolares, conforme dados disponíveis no Portal da Transparência do Amazonas. A denúncia acontece em meio à crise educacional no Estado, com o Amazonas ocupando o último lugar no Enem 2025
Desse total, R$ 6,9 milhões foram pagos à empresa BC Sobrinho Produções e Eventos Ltda, pertencente ao empresário Breno César Sobrinho de Almeida, conhecido no meio de eventos e publicidade em Manaus e que já possui outros contratos firmados com o governo estadual e prefeituras do interior. A empresa foi contratada para fornecer profissionais, transporte, materiais gráficos e personalizados para a operacionalização dos eventos esportivos. Já a E. B. Rangel Turismo Ltda, de propriedade de Edneide Barbosa Rangel e Eliedson Barbosa Rangel, recebeu R$ 1,5 milhão pelos mesmos tipos de serviços, apesar de ser uma microempresa que funciona em uma pequena sala no bairro Vila da Prata, na zona Oeste da capital.
Os contratos apresentam descrições quase idênticas, repetindo justificativas como “prestação de serviços de confecção de material gráfico e fornecimento de materiais personalizados para a operacionalização de eventos desportivos” e “fornecimento de profissionais, mão de obra e transporte”. A repetição de objetos contratuais e a semelhança entre os termos levantam suspeitas de irregularidades, como possível direcionamento de contratos, falta de competitividade nas licitações e até fragmentação de despesas. Outro ponto questionável é a destinação de recursos da educação para ações de caráter promocional e de visibilidade pública, em detrimento de investimentos em infraestrutura escolar, formação de professores e melhoria da aprendizagem.
Enquanto a Seduc desembolsa milhões em mochilas, camisetas, faixas e brindes personalizados para os JEAs e demais jogos estudantis, escolas estaduais de Manaus e do interior seguem enfrentando falta de professores, prédios com problemas estruturais e equipamentos insuficientes. A realidade dentro das salas de aula contrasta com a imagem festiva e publicitária dos eventos esportivos, revelando um abismo entre o discurso oficial de incentivo ao esporte e a efetiva necessidade de fortalecer o ensino.
A situação chamou a atenção do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM), que determinou uma inspeção extraordinária nos 100 maiores contratos da Seduc após o mau desempenho do Amazonas no Enem. O objetivo é investigar o destino de verbas milionárias que, apesar do volume expressivo, não resultaram em avanços concretos na educação pública. Entre os contratos sob análise, estão justamente os firmados com as empresas BC Sobrinho Produções e E. B. Rangel Turismo, que concentram altos valores e pouca transparência nos resultados entregues.
As irregularidades potenciais vão desde a repetição sistemática de termos contratuais e serviços genéricos até o desvio de finalidade de recursos da educação para ações meramente promocionais. Além disso, o fato de as empresas contratadas serem recorrentes em contratos com o governo e apresentarem vínculos políticos reforça a suspeita de favorecimento e ausência de concorrência efetiva.



