Empresa envolvida com montagem de árvore de Natal e morte de trabalhador tem contrato de R$ 4,7 milhões com Governo Wilson Lima
Manaus – Em meio à repercussão nacional da tragédia que matou o trabalhador Antônio Rodrigues durante a montagem da árvore de Natal no Largo de São Sebastião, um novo detalhe sobre os bastidores do descaso chama atenção: a Ecoart Soluções Ltda., empresa que atua em parceria com a Cenart Arquitetura Artística — responsável pela obra que resultou no acidente — possui um contrato milionário com o Governo Wilson Lima em 2025.
O 6º Termo de Aditamento ao Contrato AADC nº 039/2022, publicado pela Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), prorrogou por mais 12 meses o acordo com a Ecoart, incluindo aporte de recursos no valor de R$ 4.711.272,90 para atender eventos apoiados pelo órgão ao longo de 2025. O documento foi assinado em 6 de janeiro por Edval Machado Júnior, presidente da AADC.
Empresas atuam juntas — mas apagaram registros nas redes sociais
Nas redes sociais, internautas perceberam que tanto a Cenart quanto a Eco Art apagaram recentemente diversas publicações em que aparecem juntas na montagem da árvore de Natal e em outros trabalhos no Centro de Manaus. Apesar da tentativa de “limpar” os perfis, ainda restam registros de publicações que mencionam a Secretaria de Cultura do Amazonas neste ano de 2025 e também a montagem de 2024 — ano em que a árvore instalada no Largo pegou fogo, também sob responsabilidade das mesmas empresas.
A parceria entre as duas, no entanto, não é nova nem livre de polêmicas.
Histórico de contratações questionadas
Em 2020, durante a pandemia, o Governo do Amazonas dispensou licitação com base na Lei de Calamidade Pública e gastou mais de R$ 2 milhões para instalação da árvore de Natal do Largo. Três empresas foram contratadas: AC Entretenimento, Cenart e Ecoarte.
À época, a justificativa oficial foi o artigo 24, inciso IV, da Lei 8.666/93, que permite dispensa de licitação em casos de emergência. O despacho, também assinado por Edval Machado Júnior, afirmava que os preços eram compatíveis com o mercado. Mesmo em um período crítico da pandemia, o governo manteve a realização e manutenção do símbolo natalino — embora sem programação artística para evitar aglomerações.
Tragédia em 2025 reacende suspeitas
A queda do guindaste que matou o trabalhador Antônio Rodrigues no domingo (23) não apenas paralisou a montagem da estrutura natalina deste ano, como expôs um conjunto de falhas graves ignoradas pelo poder público.
A empresa Cenart, parceira direta da Eco Art no projeto, foi autuada pelo Crea-AM uma semana antes do acidente por operar sem documentação obrigatória. Não havia ART válida para içamento de estruturas pesadas, e o guindaste funcionava sem limitador de carga — elementos básicos de segurança.
Ainda assim, a Secretaria de Cultura permitiu que a obra continuasse normalmente.
Prisão polêmica e crítica pública
O operador do guindaste, Antônio Benjamim de Lima Cunha, 57 anos, foi preso logo após o acidente, mesmo sem conclusão de perícia técnica. Nas redes sociais, a advogada Paula Assunção criticou o que chamou de “culpado” conveniente.
“Não teve nem perícia pra saber se foi falha humana ou técnica! Mas o governo precisava de um culpado, não é mesmo?”, escreveu ao comentar postagem do apresentador Willace Souza.
O operador, que recebia auxílio-doença e ganharia R$ 300 pela operação, alega que apenas foi chamado para o serviço, sem responsabilidade sobre documentação ou condições do equipamento.
“Tragédia anunciada”
O Crea-AM confirmou que até dois dias antes do acidente não existia ART registrada para operação de guindaste na obra. Mesmo após autuações e alertas, o governo manteve a contratação da Cenart e de suas parceiras.
A situação reacende críticas sobre a gestão de eventos públicos no Estado e sobre quem, de fato, deve responder pela morte do trabalhador.
Por que apenas o operador está preso?
Essa é a pergunta central feita por especialistas, internautas e familiares das vítimas — enquanto a Eco Art, com contrato milionário vigente, e a Cenart, reincidente em problemas técnicos, seguem sem responsabilização imediata.
A investigação da Polícia Civil continua, assim como o processo administrativo do Crea-AM. A pressão aumenta para que o governo explique:
Quem autorizou a operação de um guindaste irregular no Largo?
Por que empresas autuadas seguiram trabalhando?
Por que o operador foi o único responsabilizado até agora?
Enquanto o governo evita respostas, os documentos oficiais mostram: a Eco Art, parceira direta da Cenart, seguirá recebendo recursos públicos — inclusive para eventos como o que resultou na tragédia.
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