Ciclo do Endividamento: cresce número de brasileiros nas classes C e D que vivem sem poupança e fazem empréstimos para pagar dívidas
Brasil – O país enfrenta um cenário preocupante: milhões de trabalhadores das classes C e D estão presos em um ciclo vicioso de endividamento, sem reservas financeiras e recorrendo a empréstimos para quitar dívidas antigas. É o que revela um estudo do Instituto Locomotiva, encomendado pela 99Pay, realizado entre setembro e outubro de 2024 com 2.800 brasileiros bancarizados. Enquanto isso, políticas públicas como o “Empréstimo para CLT”, ligado ao FGTS, e visões contrastantes, como a da colunista Mônica Bergamo, defensora de pautas progressistas, alimentam um debate acalorado sobre o acesso ao crédito e suas consequências.
Sem reservas e reféns do crédito
A pesquisa aponta que 73% dos entrevistados não possuem qualquer poupança, número que sobe para 77% na classe C e 81% na classe D. Emergências financeiras (53%) e o pagamento de dívidas atrasadas (31%) são os principais motivos para buscar empréstimos pessoais, com três em cada quatro participantes contratando crédito no último ano e sete em cada dez recorrendo a ele mais de uma vez. O cartão de crédito lidera como o meio mais usado (42%), especialmente na classe AB (55%), mas também é significativo nas classes C (39%) e DE (27%).
“Usar cartão de crédito pode ser uma armadilha. Os juros altos e as taxas extras transformam uma dívida pequena em algo impagável”, alerta Isadora Simons, gerente de operações da 99Pay. Apesar disso, 80% dos entrevistados relatam sentir alívio ou esperança ao contratar um empréstimo, enxergando-o como uma solução imediata — ainda que, para muitos, isso signifique apenas adiar o problema.
Armadilha do Governo
No centro do debate está o “Empréstimo para CLT”, iniciativa do governo que usa o saldo do FGTS como garantia para crédito consignado. A promessa é facilitar o acesso a dinheiro para trabalhadores formais, mas as críticas são ferozes. Um usuário no X resumiu o sentimento de muitos: “Você tem 30 mil reais no FGTS. Em vez de liberar esse valor, o governo cria um mecanismo pra um banco te emprestar os 30 mil. Resultado? Agora você deve 83 mil.” O exemplo ilustra como os juros e encargos podem transformar uma ajuda em um fardo.
Tenho 30 mil de FGTS, você pode liberar o MEU dinheiro?
Governo: vou fazer melhor, vou te emprestar os 30 mil e você paga 83 mil, e esses juros eu vou dar aos meus amigos banqueiros. E ainda usamos o seu FGTS de garantia no empréstimo.
E tem gente que ainda defende essa merda pic.twitter.com/p2FuwvP8qb
— gabi (@gabiandrades) March 24, 2025
O programa, alvo de questionamentos por economistas e cidadãos, é acusado de beneficiar mais os bancos do que os trabalhadores. Enquanto o governo defende a medida como uma forma de injetar recursos na economia, críticos apontam que ela aprofunda o endividamento de quem já vive no limite.