Augusto Ferraz e esposa deixam a saúde de Iranduba sucateada mesmo com licitações multimilionárias
Amazonas – Nos últimos cinco anos, Iranduba movimentou quase R$ 1 bilhão em recursos públicos — um volume expressivo para um município tão próximo da capital amazonense. Só a Secretaria Municipal de Saúde administrou mais de R$ 71 milhões entre verbas municipais, repasses federais e convênios.
Apesar desses números, a realidade das unidades básicas de saúde (UBSs) expõe um cenário de abandono que contrasta com o alto investimento divulgado pela gestão.
Secretaria comandada pela esposa do prefeito
A Saúde de Iranduba está sob responsabilidade de Luana dos Santos Medeiros, conhecida como Luana Ferraz, esposa do prefeito Augusto Ferraz. Ela foi nomeada em dezembro de 2023 para comandar um dos maiores orçamentos da prefeitura e atuar diretamente em contratos, licitações e repasses.
De acordo com relatos colhidos pelo Norte Investigação, a escolha fortalece um projeto político da família Ferraz para as eleições de 2026 — justamente em uma das áreas mais sensíveis da administração pública.
Milhões investidos, pouca estrutura nas UBSs
O contraste é gritante. Mesmo após o município receber cerca de R$ 3 milhões em 2021 para reformas na rede de saúde, as visitas de campo mostram prédios deteriorados, salas com infiltração, equipamentos antigos e mato alto ao redor das unidades.
Em uma UBS próxima à antiga sede da SEMSA, o retrato é o mesmo: fachada recém-pintada, mas interior sem manutenção e estrutura comprometida.
Portal da Transparência sem atualizações
Ao consultar o Portal da Transparência, a equipe do Norte Investigação não encontrou dados atualizados da Secretaria de Saúde: sem informações de contratos, sem licitações, sem prestação detalhada de despesas.
A ausência de transparência impede fiscalização social e acende alerta para possíveis irregularidades.
Licitação de R$ 38,1 milhões gera preocupação
Neste mês, a secretaria lançou uma nova licitação para compra de medicamentos no valor de R$ 38,1 milhões — quase 70% de todo o orçamento anual da saúde, que é de R$ 54 milhões.
Entre os itens que chamaram atenção:
R$ 228 mil em paracetamol
Mais de R$ 800 mil em sulfato ferroso
240 tipos de medicamentos listados
A discrepância entre o valor milionário e o desabastecimento crônico observado nas UBSs levanta suspeitas sobre eficiência, execução de contratos anteriores e critérios adotados para o novo certame.
Especialistas ouvidos destacam que a nova lei de licitações exige justificativa técnica, pesquisas de preço e ampla publicidade — o que não pode ser ignorado, principalmente em processos desse porte.
Primeira-dama não responde; prefeito permanece em silêncio
A equipe procurou a secretária Luana Ferraz para esclarecer as denúncias relacionadas às reformas, ao uso de emendas e ao estado das unidades. Funcionários afirmaram que ela estava em “ação externa”.
A assessoria prometeu retorno, mas não respondeu até o fechamento da matéria.
O prefeito Augusto Ferraz também foi contatado, mas segue em silêncio, mesmo diante das denúncias que envolvem diretamente sua gestão e sua esposa.
Nas palavras de comunicadores locais, os assessores “comeram abiú” — expressão popular usada no Amazonas para dizer que alguém ficou calado após ser confrontado.
Veículos parados enquanto comunidades aguardam transporte
No pátio da SEMSA, a reportagem encontrou veículos oficiais aparentemente adquiridos com recursos federais, mas sem uso ou manutenção.

Ao mesmo tempo, comunidades inteiras relatam falta de transporte para pacientes e equipes de saúde que precisam atender áreas rurais.
População sofre na ponta
Enquanto milhões circulam na Saúde, quem depende do SUS enfrenta falta de médicos, falta de insumos, unidades sem condições mínimas de funcionamento e deslocamento até Manaus para serviços básicos.
Moradores rurais afirmam que não há nem curativo nas UBSs. Relatos sobre acidentes com ferramentas, picadas de animais e atendimentos emergenciais sem suporte chegaram em massa após a veiculação das primeiras denúncias.
Transparência limitada, poder concentrado e licitações gigantescas
A gestão de Augusto Ferraz e da secretária — e primeira-dama — Luana Ferraz reúne três fatores que acendem alerta: baixa transparência, concentração de poder dentro da mesma família e licitações milionárias descoladas da realidade das UBSs.
Juristas afirmam que, se confirmadas suspeitas como uso político da estrutura da saúde, favorecimento de empresas ou arrecadação ilícita para campanhas, o caso pode configurar violações à Lei de Improbidade Administrativa e até à Lei Anticorrupção.
Tribunal de Contas, Ministério Público do Amazonas e Ministério Público Federal têm instrumentos legais para agir e devem fazê-lo com urgência, dada a proporção dos recursos envolvidos.
E afinal: qual é a prioridade da gestão Augusto Ferraz?
Com quase R$ 1 bilhão movimentados nos últimos cinco anos e um orçamento de R$ 54 milhões por ano apenas na Saúde, a pergunta que ecoa em Iranduba é: A gestão de Augusto Ferraz está priorizando a saúde pública da população ou um projeto político familiar?
Enquanto prefeito e secretária se mantêm em silêncio, a população segue sem atendimento e sem respostas — e a cidade, tão perto de Manaus, acumula problemas típicos de regiões muito mais isoladas.
A sociedade cobra, e a lei exige: transparência não é favor, é obrigação.












