‘A Farra dos Empréstimos’: onde realmente vai parar o R$ 1,5 bilhão que a ALEAM aprovou para Wilson Lima
Amazonas – Enquanto o governador Wilson Lima (União Brasil) solicita à Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) um novo cheque em branco de R$ 1,5 bilhão, a população amazonense se vê diante de uma pergunta que vale, literalmente, uma fortuna: por que o nosso dinheiro vale tão pouco?
O pedido de empréstimo, sob a justificativa técnica do programa “PROHABISCAP” (focado em habitação, saneamento e fundo garantidor de PPPs), traz à tona a crônica ineficiência da máquina pública estadual. Em qualquer lugar sério do mundo, R$ 1,5 bilhão (aproximadamente US$ 260 milhões) financia revoluções de engenharia. No Amazonas, historicamente, esse montante corre o risco de ser pulverizado em aditivos contratuais, obras de “tapa-buraco” e no ralo do superfaturamento, sem deixar um único legado estruturante para a posteridade.
O “Custo Amazônico” ou Custo da Ineficiência?
É comum gestores locais usarem a logística dos rios como escudo para justificar obras caríssimas. Mas a matemática global desmente a narrativa local.
Se convertermos o valor solicitado pelo Governo do Amazonas para dólares, descobrimos que R$ 1,5 bilhão compraria:
Quase dois “Museus do Futuro” de Dubai: Um dos prédios mais complexos da engenharia moderna custou US$ 136 milhões. O Amazonas pede o dobro disso.
Duas pontes iguais à Beipanjiang (China): A ponte mais alta do mundo, uma maravilha da engenharia sobre um vale profundo, custou US$ 144 milhões. Aqui, esse valor mal paga a manutenção viária e reformas que se desfazem no primeiro inverno amazônico.
Quatro megaprisões de segurança máxima (El Salvador): O CECOT, que abriga 40 mil detentos e resolveu a crise de segurança salvadorenha, custou cerca de US$ 70 milhões. No Amazonas, gastamos fortunas no sistema prisional para continuar reféns das facções.
A discrepância é gritante. O dinheiro que na China conecta províncias inteiras, no Amazonas é diluído em contratos obscuros, consultorias vagas e obras que se arrastam por décadas.
O Fundo das PPPs: Uma Caixa Preta?
Um ponto alarmante do projeto enviado à Aleam é o uso de parte desse recurso para o “Fundo Garantidor de Parcerias Público-Privadas”. Em tese, é uma segurança para investidores. Na prática, pode ser uma forma de imobilizar capital público para garantir lucros privados em concessões que, muitas vezes, prestam serviços precários — vide o histórico problemático de concessões de energia e saneamento na região.
Endividar o Estado (oferecendo o ICMS e o Fundo de Participação como garantia) para “dar segurança” a parceiros privados, enquanto hospitais no interior carecem de insumos básicos, é uma inversão de prioridades que beira a irresponsabilidade fiscal.
O Que R$ 1,5 Bilhão Deveria Fazer (Mas Provavelmente Não Fará)
Se aplicado com a eficiência de uma Singapura ou mesmo com a seriedade de estados brasileiros mais austeros, esse montante poderia transformar a realidade do caboclo:
Revolução no Saneamento do Interior: O valor seria suficiente para implantar sistemas modernos de tratamento de água e esgoto em 15 municípios de médio porte (como Coari, Tefé, Parintins), tirando o Amazonas da vergonhosa liderança no ranking de doenças de veiculação hídrica.
Déficit Habitacional Real: Não apenas “auxílios”, mas a construção de bairros planejados. Com custos otimizados, seria possível erguer mais de 7.000 unidades habitacionais de alvenaria, com infraestrutura completa, retirando milhares de famílias de áreas de risco e igarapés poluídos.
Hospitais de Referência: O montante paga a construção e equipagem de sete Hospitais Regionais de alta complexidade. Hoje, o interiorano ainda precisa entrar em uma “ambulânciachata” por 20 horas para tratar um trauma em Manaus, porque o dinheiro da saúde escoa pelo ralo da má gestão.
O Risco do “Mais do Mesmo”
O governo Wilson Lima, marcado por escândalos pretéritos (como o da compra de respiradores em lojas de vinho) e por uma gestão que viu a capital sufocar sem oxigênio, pede agora um voto de confiança bilionário.
Aprovar esse empréstimo sem um carimbo rígido de destino, sem metas de entrega física auditáveis e sem transparência total, não é investimento.






