Técnica de enfermagem se defende após aplicar superdose de adrenalina em Benício: “fiz o que estava prescrito”; veja vídeo
Manaus – Raissa Marinho, a técnica de enfermagem de 22 anos envolvida na aplicação da superdose de adrenalina que levou à morte do menino Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, no Hospital Santa Júlia, prestou depoimento nesta sexta-feira (28) e tentou se defender, atribuindo o erro fatal à prescrição médica.
Em meio a uma coletiva de imprensa, a profissional, que atua há apenas sete meses na área, admitiu ter tido dúvidas sobre o procedimento, mas alegou ter agido conforme a ordem escrita da médica Juliana Brasil Santos.
Raissa confirmou ter sido a responsável por administrar a medicação. Questionada sobre a via de aplicação — que deveria ser por nebulização, mas foi prescrita como intravenosa (direto na veia) —, ela admitiu a inexperiência e a estranheza do procedimento.
“Eu falei que também não tinha sido, nunca tinha, nunca tinha administrado aquela medicação, por aquela via,” declarou a técnica.
Apesar da dúvida, Raissa afirmou que só aplicou a dose após concordar com a mãe da criança, baseada na ordem expressa. “Informei a mãe, né, no momento que eu fui fazer a medicação. Ela também questionou a via de administração. Mas estava prescrito o médico, né? Então, nós duas entramos em concordância e de ser administrada a medicação,” disse Raissa.
Prescrição “Pura” e Dosagem Fatal
O delegado Marcelo Martins confirmou que Benício morreu por uma overdose de adrenalina, com uma dose prescrita 30 vezes superior à recomendada. A técnica de enfermagem reforçou que a ordem médica era de uma dosagem extremamente elevada e sem diluição.
“Lá na prescrição médica estava orientado para administrar a medicação três vezes, de 30 em 30 minutos, e estava informado para fazer puro, né? Ou seja, não era diluída a medicação.”
Raissa garantiu ter aplicado somente a primeira dose. Segundo ela, a própria Dra. Juliana reconheceu posteriormente o erro na evolução médica.
Raissa também fez duras críticas à conduta da médica Juliana Brasil Santos após a aplicação. Ela relatou que, logo em seguida, Benício começou a passar mal: “Ele começou a ficar pálido e a boca dele também ficou sem cor, assim, e falou que estava, o coração dele estava queimando.”
Ao acionar a médica para relatar a reação, a técnica de enfermagem disse que recebeu uma resposta vaga.
“Falei que foi a adrenalina, que… E aí ela pegou e falou, ‘tá bom’. E aí eu retornei para a pediatria. Ela não foi.”
A técnica e a equipe de enfermagem iniciaram o socorro sozinhas, colocando um cateter nasal no menino. Quando a Dra. Juliana chegou, Raissa afirmou que a médica estava mais preocupada em transferir a culpa, chegando a indagar a mãe da criança.
“A médica chegou lá e ficou olhando, procurando culpados. Ela, inclusive, indagou a mãe, né, falando assim, ‘eu não falei que era para fazer nebulização?'”
“Não posso fazer o que não está prescrito”
Em sua defesa final, Raissa enfatizou a obrigação legal de seguir a prescrição, mesmo diante de dúvidas:
“A gente não pode fazer nada que não tenha na prescrição médica. Ainda que a médica tivesse chegado comigo e falado que ela queria fazer nebulização na criança, eu não posso fazer o que não está prescrito.”
A Polícia Civil segue investigando o caso, que envolve a médica por erro de prescrição e a técnica de enfermagem por execução do procedimento.


