“Quem será?”: traficantes do CV disseram “nosso ministro solta” antes de megaoperação no RJ; veja
Brasil – Mensagens interceptadas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro revelaram mais uma camada das relações obscuras entre criminosos do Comando Vermelho (CV) e agentes públicos. Antes da megaoperação que se tornou a mais letal da história do estado, integrantes da facção no Complexo do Alemão negociaram o pagamento de R$ 15 mil a policiais para garantir a soltura de um comparsa preso.
As conversas, acessadas pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), mostram Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, figura de alta patente no CV e um dos principais alvos da operação, discutindo o resgate com Danielle Silva dos Santos, também apontada como integrante da facção. BMW acabou não sendo localizado pela polícia.
“Quer 15 mil”, disse BMW em mensagem via WhatsApp.
“Manda logo, solta o moleque”, respondeu Danielle, pressionando pelo pagamento.
A investigação aponta que o pedido de resgate teria sido feito por agentes da própria segurança pública – reforçando suspeitas de corrupção e negociação direta entre criminosos e policiais.
Em outro trecho, Danielle insiste para que BMW autorize o repasse do dinheiro e menciona um suposto “ministro” da facção, capaz de resolver a situação caso o pagamento fosse feito:
“Nesse valor, nosso ministro solta ele depois, nós vai pagando o que for, solta o moleque, mano.”
A identidade do “ministro” não foi esclarecida pela polícia.
Hierarquia e terror
Segundo o relatório, BMW não é apenas um operador financeiro ou logístico da facção. Ele é apontado como responsável por ordenar punições e participar de “tribunais do tráfico”, com autonomia para sentenciar rivais — inclusive com pena de morte. Ele também seria chefe da Equipe Sombra, grupo de matadores do CV, e comanda ações na Gardênia Azul.
A denúncia do Ministério Público que embasou a operação expôs métodos de tortura utilizados pela facção, como arrastar vítimas com veículos, submeter presos a banhos de gelo e aplicar espancamentos, chamados cinicamente de “massagem” pelos criminosos.
Policial pediu ajuda a traficante
Além das mensagens sobre o resgate, o relatório traz outro indício grave de cooperação entre criminosos e agentes do Estado. A quebra do sigilo telefônico de Washington César Braga da Silva, o Grandão, conhecido como “síndico da Penha”, revelou uma conversa em que um major da Polícia Militar pede ajuda para recuperar um carro roubado.
O oficial, identificado como Ulisses Estevam, envia uma foto do veículo e informa estar no Morro da Fé:
“Preciso recuperar. Carro do 01. Esse eu tenho que resolver.”
O veículo foi localizado e devolvido três dias depois. O major segue na ativa, com salário superior a R$ 26 mil, e estava lotado como gestor estratégico na UPP da Rocinha.
Cenário de guerra e mais de 120 mortos
As revelações vieram à tona após a operação que deixou mais de 120 mortos no Complexo da Penha e Alemão, resultado da ação policial desencadeada com base nesse dossiê. Moradores relataram terror e desespero, chegando a transportar corpos da mata para a praça da comunidade por conta própria.
A tragédia reacendeu o debate sobre militarização, corrupção policial e domínio do narcotráfico em comunidades.
Contexto explosivo
Especialistas destacam que a operação expôs não apenas o poder bélico e territorial do Comando Vermelho, mas também suas conexões com setores da segurança pública — um indicativo de como o crime organizado se infiltra no Estado para continuar operando com alta eficiência.
Enquanto as investigações seguem, o nome de BMW continua entre os mais procurados do Rio, e as mensagens vazadas deixam claro: a guerra entre facção, polícia e Estado é atravessada por negociações clandestinas, corrupção e um sistema paralelo que decide quem vive e quem morre nas favelas cariocas.




