Estado Pararelo: PF investiga Bacellar sobre vazamentos de operações para o CV no RJ
Brasil – O relatório da Polícia Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que embasou o pedido de prisão do presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), expõe um cenário alarmante descrito pelos investigadores como a atuação de um “verdadeiro Estado paralelo” dentro da estrutura política fluminense.
De acordo com a PF, Bacellar teria atuado diretamente para vazar informações sigilosas de operações policiais que miravam integrantes e articuladores do Comando Vermelho (CV), interferindo no trabalho investigativo e ajudando alvos a ocultar provas. O documento revela que o parlamentar orientou Thiego Raimundo dos Santos, o TH Joias, a retirar objetos de sua residência antes da deflagração da Operação Zargun, em setembro deste ano.
Bacellar foi preso na manhã desta quarta-feira (3/12) durante a Operação Unha e Carne, que apura o vazamento de informações estratégicas da PF. A ordem de prisão foi assinada pelo ministro Alexandre de Moraes.
A orientação para esconder provas
O relatório entregue ao STF detalha que Bacellar não só teve acesso prévio à operação, como também manteve comunicação direta com TH Joias – condenado a quase 15 anos por tráfico de drogas e que já havia cumprido 10 meses de prisão. Segundo a PF, o deputado utilizou sua influência política para proteger o aliado, ciente das ligações de TH com lideranças do Comando Vermelho.
“Sabedor das notórias interações de TH Joias com o Comando Vermelho (…), o deputado estadual Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj, toma ciência prévia da ação policial, conversa com o principal alvo de tal ação e ainda o orienta sobre a retirada de objetos de interesse da persecução”, registra o relatório.
Embora a PF não aponte quem, dentro das estruturas oficiais, repassou a Bacellar as informações sigilosas, os investigadores destacam que o vazamento será aprofundado nas próximas etapas da investigação.
Rede de proteção ao crime organizado
Para os investigadores, os episódios envolvendo Bacellar e TH Joias revelam a atuação coordenada de figuras políticas na proteção de criminosos de alta periculosidade. O relatório afirma que esse esquema seria comandado pelos “capos da política fluminense”, que, nos bastidores, teriam transformado informações privilegiadas em moeda de troca para favorecer facções como o CV.
A PF afirma que a violação de sigilos comprometeu a efetividade de ações estratégicas e impediu o avanço de investigações sensíveis envolvendo tráfico internacional e corrupção.
A Operação Zargun
Deflagrada em 3 de setembro, a Operação Zargun mirou uma organização criminosa ligada diretamente às lideranças do Comando Vermelho no Complexo do Alemão. A ação desmantelou um esquema de tráfico internacional de armas e drogas, corrupção de agentes públicos e lavagem de dinheiro.
Ao todo, foram cumpridos:
- 18 mandados de prisão,
- 22 mandados de busca e apreensão,
- além do sequestro de R$ 40 milhões em bens pertencentes ao grupo investigado.
Entre os alvos estavam um delegado da PF, policiais militares, um ex-secretário estadual e o próprio TH Joias, identificado como articulador político da facção dentro da Alerj.
Próximos passos
A PF ainda apura quem forneceu as informações internas que permitiram a Bacellar orientar TH Joias sobre como escapar da ação policial. O episódio que resultou no vazamento ainda não foi totalmente elucidado, mas é tratado como peça-chave para compreender a extensão da rede criminosa infiltrada em estruturas do Estado.
Enquanto as investigações avançam, a prisão de Bacellar representa mais um capítulo de uma crise que expõe as ligações perigosas entre crime organizado e setores institucionais do Rio — um retrato que a Polícia Federal descreve como “Estado paralelo” atuando à sombra do aparelho público.


