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Caso Kaline: mulher agredida escreveu carta pedindo para Justiça soltar cantor Diego Damasceno; leia na íntegra

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Caso Kaline: mulher agredida escreveu carta pedindo para Justiça soltar cantor Diego Damasceno; leia na íntegra

Manaus – Em uma reviravolta surpreendente no caso de violência doméstica que chocou Manaus, Kaline Milena Santana Oliveira, de 30 anos, apresentou uma carta à Justiça do Amazonas solicitando a paralisação do processo contra o cantor de forró Diego Damasceno, de 29 anos, acusado de agredi-la em abril de 2025. A promotora de eventos, que inicialmente denunciou ter sofrido agressões graves, incluindo a perda de três dentes, mudou sua versão dos fatos, afirmando que o conflito foi mútuo e motivado por uma discussão sob efeito de bebidas alcoólicas. A nova declaração levou à absolvição de Damasceno, que foi solto nesta quarta-feira (21/5). Leia abaixo a íntegra da carta escrita por Kaline:

“Eu, Kaline Milena Santana Oliveira, venho por meio desta carta retificar o que falei na Delegacia da Mulher, no dia 07/04/2025, onde em depoimento, tomada pelo sentimento de raiva, acusei meu então companheiro Diego Damasceno de Souza de ter me agredido com socos, quando na verdade, sobre efeito de bebidas alcóolicas, brigamos no carro, houveram insultos e eu abri o porta luvas e tirei o carregador portátil e joguei diretamente nele, em seguida ele pega do chão e arremessa de volta sem que ele perceba onde me acertou, pois estava dirigindo.

Confesso que, no momento do meu primeiro depoimento, estava com muita raiva e me deixei levar por isso, fui orientada naquele momento pela até então minha advogada Dra. Adriane a expor, falar nas mídias, mas eu não tinha noção de que tomaria toda essa proporção, até porque eu só queria ter ido registrar o Boletim de Ocorrência e nada mais…

Por isso, através desta, solicito a não continuidade do processo, não quero levar adiante, não tenho interesse em ver ele preso, pela minha saúde mental, minha paz, porque eu sou ciente de que nós dois erramos naquele momento.

Espero que atendam minha solicitação e retirem a medida protetiva e paralisem o andamento do processo. Desde já agradeço.

Ass: Kaline Milena S. Oliveira”

 

O caso teve início na madrugada de 6 para 7 de abril de 2025, quando Kaline registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM), em Manaus, acusando Diego Damasceno de agredi-la com socos no rosto e nos braços após uma discussão motivada por ciúmes. Segundo o relato inicial, a agressão ocorreu no bairro Parque 10, zona Centro-Sul, enquanto o casal voltava de um bar. Kaline afirmou que o cantor, embriagado, ficou transtornado por um vídeo dela dançando com colegas de trabalho em uma ação promocional, o que desencadeou os ataques. As agressões resultaram na fratura de três dentes, hematomas e a necessidade de pontos na boca, além de tratamento médico e futura cirurgia reconstrutora.

Kaline também revelou à imprensa, na época, que não era a primeira vez que sofria violência de Damasceno. Ela relatou episódios anteriores em julho e outubro de 2024, sendo que, no último, em Manacapuru, teve outro dente arrancado. Após a denúncia, Diego, inicialmente foragido, enviou áudios à vítima pedindo perdão e afirmando estar “machucado” e com um dente quebrado. “Meu amor, pelo amor de Deus, me liga, nem que seja pra me xingar. Perdoe meu amor, por favor, me perdoe”, disse em uma das mensagens, mencionando que iria para Manacapuru. O cantor se entregou à polícia no dia 8 de abril, acompanhado de sua advogada, Leiliane Nóbrega, após a decretação de sua prisão preventiva.

Mudança de depoimento e absolvição

Durante a audiência de instrução e julgamento, Kaline apresentou uma nova versão, contradizendo o depoimento inicial. Ela afirmou que, sob efeito de álcool, iniciou o conflito ao jogar um carregador portátil contra Diego, que teria “revidado” ao arremessá-lo de volta, sem intenção de acertá-la, pois estava dirigindo. A promotora de eventos também dispensou sua advogada inicial, Adriane Magalhães, em abril, sem explicações, e contratou dois novos advogados para representá-la.

Na carta, Kaline admite que seu primeiro depoimento foi motivado por raiva e influenciado por orientações de Adriane Magalhães para expor o caso na mídia, o que, segundo ela, tomou proporções inesperadas. Ela pediu a revogação das medidas protetivas e a paralisação do processo, alegando preocupação com sua saúde mental e reconhecendo que ambos erraram no incidente.

O Ministério Público do Amazonas (MPAM) informou que a falta de confirmação do depoimento inicial por Kaline, aliada à ausência de testemunhas ou provas materiais, inviabilizou a continuidade do processo. “A legislação exige que a vítima confirme na audiência o que foi falado à polícia. Como ela não falou, o MPAM não poderia criar provas, porque estaria agindo contra a lei”, explicou o promotor Davi Santana da Câmara. A Justiça, acolhendo o parecer do MPAM, absolveu Diego Damasceno, que foi solto imediatamente.

Reação da advogada

Adriane Magalhães, que acompanhou Kaline no início do caso, expressou perplexidade com a mudança de versão e a dispensa de sua representação. “Fui pega de surpresa com o pedido de Kaline para que eu fosse retirada de sua representação, sem qualquer explicação. Desde então, não mais integrei a condução do processo”, declarou. Ao tomar conhecimento da absolvição de Diego, a advogada lamentou a decisão da vítima: “A verdade é clara: somente porque Kaline declarou que não havia sido agredida, é que o agressor saiu impune.”

Magalhães reforçou a importância de denunciar casos de violência doméstica desde o primeiro episódio e reafirmou seu compromisso com a causa. “Nunca deixarei de defender os direitos das mulheres, com ética, coragem e compromisso com a verdade. Não se calem. Denunciem. Confiem na Justiça do Estado do Amazonas, composta por profissionais sérios, sensíveis à dor feminina e que fazem valer a Lei Maria da Penha”, declarou. Ela também deixou um recado às vítimas: “Se você, mulher, estiver passando por qualquer forma de violência, saiba que não está sozinha. Estou aqui, de pé e na linha de frente, para lutar ao seu lado.”





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