Vice-presidente da Assembleia Nacional francesa renuncia após escândalo de assédio sexual
PARIS — O vice-presidente da Assembleia Nacional francesa (Câmara Baixa), o deputado ecologista Denis Baupin, acatou o pedido do presidente da casa e renunciou ao cargo nesta segunda-feira após ser envolvido em um escândalo de assédio e agressão sexual.
Mais cedo, o presidente da Assembleia, Claude Bartolone, pediu a Baupin, de 41 anos, que apresentasse sua demissão que em razão das acusações. Reveladas pela imprensa, as denúncias citam o testemunho de oito mulheres, incluindo ao menos quatro eleitas.
Casado com a ministra da Habitação Emmanuelle Cosse, Denis Baupin, que deixou em abril o partido Europa Ecologia-Os Verdes (EELV) em razão de “divergências estratégicas”, classificou as acusações de “mentirosas, difamatórias”.
“Denis Baupin contesta formalmente a ideia de assédio sexual e ainda mais a de agressão sexual, as quais são totalmente estranhas a ele”, declarou o seu advogado em um comunicado, indicando que seu cliente planeja mover uma ação judicial por difamação.
Entre as denúncias está o testemunho da porta-voz do EELV, Sandrine Rousseau, publicado pelo portal Mediapart e pela emissora France Inter, relembrando eventos que teriam ocorrido em outubro de 2011.
Durante uma reunião do partido, “quis fazer uma pausa, e no corredor, Denis Baupin veio em minha direção. Ele me pressionou contra a parede, segurando-me pelo peito, e tentou me beijar. Eu o empurrei violentamente”, relatou. Sandrine Rousseau disse ter sentido um grande mal-estar.
A deputada Isabelle Attard, que se retirou do EELV em dezembro de 2013, denunciou, por sua vez, “assédio quase diário por meio de SMS provocadores, lascivos”. Ela indicou ainda que “várias deputadas recebiam o mesmo tipo de mensagem”.
Duas outras políticas, Elen Debost, vice-prefeita de Le Mans, e Annie Lahmer, vereadora na região de Paris, também disseram que foram vítimas de um comportamento inadequado por parte do deputado. No que diz respeito a Annie Lahmer, o caso teria acontecido há mais de 15 anos.
“Muitas ficaram em silêncio para não magoar sua mulher”, diz Elen Debost, que decidiu falar sobre o assédio após ver a foto de vários deputados, incluindo Denis Baupin, com a boca pintada de batom vermelho para protestar “contra a violência contra as mulheres” em 8 de março.
“Senti náuseas, quase vomitei”, declarou Elen Debost em uma carta à liderança do partido publicada pelo jornal “Le Parisien”.
Vários membros do EELV não ficaram surpresos com a revelação.
“Ele era muito, muito conhecido no partido”, disse à AFP um colaborador do grupo dos Verdes na Assembleia.
Este novo caso mancha mais a imagem dos políticos franceses, frequentemente acusados de machismo e gestos inapropriados, em um país traumatizado com as revelações sobre Dominique Strauss-Kahn, acusado de estupro em maio de 2011.
Em um caso mais recente, o ministro das Finanças Michel Sapin foi acusado em um livro de ter agido de forma imprópria com uma jornalista. Ele descreveu estas afirmações como “imprecisas e caluniosas”.
No ano passado, mulheres jornalistas denunciaram em um artigo o sexismo dos homens políticos que elas devem entrevistar. Na França, a prescrição dos crimes de assédio e agressão sexuais é de três anos.