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Trump autoriza operações secretas e CIA prepara ofensiva inédita contra regime de Maduro

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Trump autoriza operações secretas e CIA prepara ofensiva inédita contra regime de Maduro

Mundo – A confirmação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que autorizou a CIA a conduzir “operações secretas” dentro da Venezuela elevou a tensão entre Washington e Caracas a níveis raramente vistos — e acendeu o debate sobre até onde essa escalada pode levar, incluindo o risco de um confronto armado aberto.

Na quarta-feira (15/10), em entrevista no Salão Oval, Trump disse que os EUA “estão analisando operações em terra” para combater rotas de narcotráfico que, segundo a Casa Branca, teriam origem na Venezuela. Até então, as ações americanas tinham sido concentradas no mar — com ataques a embarcações suspeitas próximos à costa venezuelana —, mas a declaração presidencial deixou claro que o espectro de opções agora incluiria missões em solo, ainda que o alcance e a natureza exata dessas operações não tenham sido detalhados.

Os ataques navais recentes, que teriam resultado no afundamento de pelo menos cinco barcos e na morte de cerca de 27 pessoas, provocaram críticas severas de organismos internacionais e organizações de direitos humanos — que classificaram algumas ações como possíveis execuções extrajudiciais por falta de transparência e verificação independente. Essas operações marítimas são, segundo analistas, parte de uma estratégia mais ampla de pressão que agora ganha um novo patamar com a autorização para ações encobertas.

Por que a CIA — e por que agora?

A história das agências de inteligência dos EUA na América Latina inclui uma longa lista de intervenções encobertas: desde campanhas de desestabilização e apoio a golpes até operações de infiltração e sabotagem. Para especialistas, a autorização presidencial para “ações secretas” representa uma ferramenta de política externa que permite ao Executivo atuar com discrição e rapidez, mas também com baixo nível de escrutínio público e parlamentar — um cálculo que aumenta os riscos de erros de avaliação e de escalada não intencional.

O governo Trump tem pressionado o tema do narcotráfico como justificativa para medidas mais agressivas contra Caracas, chegando a classificar organizações criminosas venezuelanas como ameaças transnacionais e a oferecer recompensas elevadas por informações contra figuras do regime. Essa narrativa foi usada para legitimar anteriormente ações no mar e medidas administrativas, mas a passagem para operações em terra amplia os riscos de confrontos diretos com forças venezuelanas ou de incidentes que possam ser interpretados como atos de guerra.

Risco de “zona cinzenta” — entre guerra e paz

Documentos militares e análises estratégicas venezuelanas consultadas por analistas apontam que Caracas já se prepara há anos para enfrentar pressões externas: da mobilização da Milícia Bolivariana ao treinamento de civis para resistir a tentativas de invasão ou subversão. Essa doutrina de defesa — influenciada por experiências de guerrilha e pelo conceito de guerra assimétrica — busca transformar qualquer conflito em um desgaste prolongado que torne insustentável uma intervenção externa. Em outras palavras: mesmo ações americanas de baixo custo operacional podem desencadear respostas populares e militares inesperadas.

Militarmente, a Venezuela reconhece que não venceria um confronto convencional contra os EUA, por isso aposta em estratégias irregulares que borrem a linha entre combatente e civil. Esse tipo de jogo torna qualquer incidente em solo — uma operação clandestina mal sucedida, um ataque que cause vítimas civis, ou um ato “false-flag” atribuído equivocadamente a Caracas — especialmente perigoso para a estabilidade regional.
The Guardian

O dilema do “feito às sombras”: eficácia vs. responsabilidade

Autorizar operações secretas dá ao Executivo flexibilidades táticas: infiltração, desestabilização de redes criminosas, até — em cenários extremos — ações cirúrgicas contra líderes de organizações armadas. Mas essas medidas trazem dois problemas práticos e éticos imediatos: 1) a possibilidade de erros de inteligência que causem mortes de civis ou agentes não relacionados; e 2) a quase inevitável resposta de Caracas, que pode interpretar qualquer operação como uma escalada rumo a uma tentativa de mudança de regime. Em democracias, além disso, há uma questão de prestação de contas: operações secretas normalmente ficam fora do escrutínio público e isso alimenta controvérsias políticas internas.

Organizações de direitos humanos e especialistas alertam que operações sem transparência podem resultar em violações graves do direito internacional e em crises diplomáticas que extrapolem o objetivo inicial — combater o tráfico de drogas — para assumir contornos geopolíticos que colocam em risco a paz regional.

Contrainfiltração limitada e retorno à pressão diplomática: a CIA poderia conduzir missões de inteligência pontuais que não impliquem confrontos diretos, permitindo a Washington manter pressão sem provocar respostas militares abertas.

Escalada controlada: operações em solo com objetivo militar específico contra redes criminosas, que podem provocar incidentes bilaterais e retaliações simbólicas de Caracas (p.ex., expulsões diplomáticas, ataques cibernéticos).

Incidente que leva à crise maior: uma operação mal sucedida ou um ataque que cause vítimas civis poderia desencadear uma resposta venezuelana mais robusta, mobilizando milícias e forçando aliados regionais a tomar posição — com risco real de confronto maior.

A autorização presidencial para operações secretas da CIA marca, no mínimo, uma nova fase nas relações entre Estados Unidos e Venezuela — uma fase em que a linha entre combate a criminosos e confronto entre Estados fica perigosamente tênue. Entre dissuasão e desastre, a diferença frequentemente depende de decisões tomadas no campo da inteligência — decisões envoltas em sigilo e, por isso, difíceis de fiscalizar. Para a América Latina, isso significa viver com uma incerteza geopolítica que pode transformar um problema de segurança transnacional (o tráfico de drogas) em uma crise diplomática ou, no pior cenário, numa conflagração — algo que nenhum dos lados parece, por enquanto, disposto a declarar abertamente.



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