Homem com tipo sanguíneo raro que salvou 2 milhões de bebês morre aos 88 anos
Mundo – James Harrison, o australiano apelidado de “homem do sangue dourado”, faleceu aos 88 anos no dia 17 de fevereiro de 2025, em uma casa de repouso em Nova Gales do Sul, Austrália. Conhecido por seu tipo sanguíneo extremamente raro, o Rh nulo, Harrison dedicou mais de seis décadas a doações que salvaram a vida de mais de 2 milhões de bebês ao redor do mundo, um legado que o colocou no livro dos recordes e no coração de inúmeras famílias.
Harrison possuía um dom único: seu sangue continha o anticorpo anti-D, essencial para o tratamento da eritroblastose fetal, uma condição grave causada por incompatibilidade sanguínea entre mãe e bebê, que pode levar à anemia severa, icterícia ou até a morte do recém-nascido. O tipo Rh nulo, presente em menos de 50 pessoas no planeta, é conhecido como “sangue dourado” por sua raridade e valor médico — ele pode ser doado a quase qualquer pessoa sem causar reações adversas, mas quem o possui só pode receber do mesmo tipo.
A jornada de Harrison como doador começou de forma improvável. Aos 14 anos, ele passou por uma cirurgia de pulmão que exigiu 13 transfusões de sangue para salvá-lo. Grato pela ajuda recebida, ele prometeu retribuir assim que pudesse. Em 1954, aos 18 anos, começou a doar sangue regularmente, uma rotina que manteve por impressionantes 63 anos, até 2017, quando aposentou suas doações por limite de idade. Ao longo desse período, ele realizou mais de 1.100 doações — um recorde mundial reconhecido pelo Guinness.
O plasma de Harrison foi usado para produzir a injeção de imunoglobulina anti-D, conhecida comercialmente como RhoGAM, administrada a gestantes para prevenir a doença hemolítica do recém-nascido. Estima-se que, na Austrália, suas doações tenham ajudado a salvar cerca de 2,4 milhões de bebês, incluindo seu próprio neto, Scott, cuja mãe recebeu o tratamento derivado do sangue do avô. “Ele tinha muito orgulho de ter salvado tantas vidas, sem nenhum custo ou dor. Ficava feliz em saber das muitas famílias como a nossa, que existem por causa da bondade dele”, declarou Tracey Mellowship, filha de Harrison, em entrevista à imprensa australiana.
A Cruz Vermelha Australiana, que coletava suas doações a cada duas ou três semanas, estima que uma em cada dez mulheres grávidas no país se beneficiou direta ou indiretamente de seu sangue. “James foi um herói silencioso. Ele nunca buscou fama, apenas fazia o que achava certo”, disse um porta-voz da organização.
Harrison deixou de doar em 2017, aos 81 anos, seguindo regulamentações de saúde que limitam a idade dos doadores. Sua última doação foi marcada por uma cerimônia emocionante, com a presença de famílias que ele ajudou a formar. Até seus últimos dias, ele viveu discretamente, mas seu impacto reverberou globalmente — de médicos que o chamavam de “milagre vivo” a pais que enviavam cartas de gratidão.
Ao falecer em 2025, James Harrison deixa um legado de generosidade que transcende fronteiras. “Ele foi um exemplo de como um gesto simples pode mudar o mundo”, escreveu um usuário no X, ecoando o sentimento de muitos. Sua história é um lembrete de que, às vezes, o maior poder está em algo tão humano quanto uma veia disposta a ajudar.


