Hillary dá passo decisivo para disputa, e Trump retoma protagonismo
WASHINGTON – O fôlego obtido com grandes vitórias em Nova York, na terça-feira, pode ser decisivo para que Hillary Clinton, entre os democratas, e Donald Trump, entre os republicanos, confirmem seus nomes nas cédulas das eleições presidenciais americanas de novembro. Se repetir o resultado nas prévias na próxima semana, quando cinco estados escolhem seus candidatos, Hillary terá sua nomeação praticamente garantida, e já aumenta a pressão para que Bernie Sanders abandone a disputa. Na oposição, Trump voltou a ter protagonismo e ainda sonha em obter o número necessários de delegados para se garantir como candidato, sem que o partido parta para o “vale-tudo” da convenção contestada.
Nova York deu aos dois líderes na disputa mais do que imaginavam. Além de vitórias com diferença acima das pesquisas mais favoráveis, Hillary e Trump reconquistaram o discurso de favoritos que haviam perdido nas últimas semanas. Hillary voltou a mostrar o favoritismo em grupos importantes entre os eleitores democratas, como negros, mulheres e latinos, enquanto Trump obteve a primeira vitória por mais de 50% do votos, recuperando o discurso de “vencedor infalível” que usa em sua campanha.
No caso democrata, já se fala abertamente na desistência de Sanders. Ontem, seu chefe da campanha teve que ir à imprensa dizer que o senador por Vermont ainda tem “um caminho a percorrer”. Mas a nomeação de Hillary, que parece cada vez mais perto, pode se cristalizar no dia 26. Se repetir a performance de Nova York em Maryland, Pensilvânia, Rhode Islands, Connecticut e Delaware — como as pesquisas indicam — ela ficará perto de, matematicamente, obter o número de delegados necessários para a nomeação, contando os superdelegados, que votam diretamente na convenção, sem seguir a orientação das primárias de seus estados.
Segundo os cálculos da Associated Press, antes de Nova York Sanders precisava conquistar 68% dos delegados para garantir a nomeação. Agora, a meta chega a 73%. Ou seja, mesmo que perca todas as próximas primárias, Hillary obtém a nomeação, desde que não sejam derrotas arrasadoras. Ela, contudo, ainda adota um discurso cauteloso, já que depois da Flórida também imaginava estar com a nomeação praticamente garantida e sofreu com seis derrotas seguidas. Agora, tentará atrair o eleitor de Sanders, em geral mais jovem, progressista e independente, de olho na disputa da Casa Branca em novembro.
“Não há razão para Sanders confiar que o Partido Democrata trabalhe por seus objetivos. Ele será sábio de extrair algumas concessões antes de conceder seu apoio a Hillary”, escreveu Ryan Cooper em sua coluna na “The Week”.
Republicanos voltam a fazer contas
No lado republicano, a disputa política voltou às calculadoras: Trump pode realmente obter o “número mágico” de 1.237 delegados e evitar a convenção contestada? Muitos analistas voltaram a dizer que sim, embora lembrem que o caminho não será fácil. E o primeiro passo não é um grande obstáculo para o magnata: vencer bem nos cinco estados que fazem as primárias na próxima semana, todos da Costa Leste, com perfil semelhante ao de Nova York, onde obteve sua maior vitória.
Se as pesquisas estiverem certas, haverá um novo momento ruim para Ted Cruz — senador texano em segundo lugar na contagem de delegados — que não se sai bem na região, menos afeita ao seu discurso religioso e suas propostas de extrema-direita. John Kasich, que está sendo pressionado a desistir, deve ficar em segundo lugar nesses estados, mais moderados, mas não a ponto de embalar a campanha do governador de Ohio.
Nate Silver, o matemático especializado em política do site fivethirtyeight, afirma que o bilionário conseguiu 95% do que era necessário, até o momento, para conquistar os delegados necessários. Kyle Kondik e Geoffrey Skelley, do projeto “Sabato’s Crystal Ball”, da Universidade de Maryland, afirmam que o desafio de Trump é possível, porém difícil, e que ele precisaria conquistar 63% dos delegados que ainda serão disputados. Mas estimam que, o mais provável, é que Trump termine a corrida com cerca de cem delegados a menos do que o necessário. E, nesse contexto, tudo pode acontecer.
Na convenção contestada, após a primeira votação sem vencedor claro, os delegados podem votar livremente, sem respeitar o resultado das primárias de seus estados. E Trump, que acusa o partido de ter um sistema de escolha “corrupto”, não está entre os mais populares. Ou seja, a não ser que tenha um resultado surpreendente e conquiste todos os delegados necessários, ele terá seu futuro decidido na convenção de Cleveland, 18 a 21 de julho, num ambiente aberto e hostil ao bilionário.
“Um resultado espetacular no dia 26 de abril já está na conta de Trump. O jogo final começa na outra semana, em Indiana, o primeiro dos dez estados a votar que são muito mais favoráveis a Ted Cruz”, escreveu Jeremy Carl na “National Review”, principal publicação de direita dos EUA.


