Eleição para prefeito expõe cenário de caos em Roma
ROMA – Uma greve de 24 horas que deixou o centro histórico repleto de pilhas de lixo; um sistema de transporte ineficaz, que deixa boa parte da periferia da cidade praticamente inacessível e que coleciona dívidas que ultrapassam €1 bilhão; ruas e estradas esburacadas que já causaram 1.400 acidentes automobilísticos desde o início do ano; um histórico de ligações da prefeitura com o crime organizado que forçou o então prefeito Ignazio Marino a renunciar no fim do ano passado; e um acúmulo de dívidas que se estende por décadas e hoje ultrapassa €12 bilhões. Esse é o legado que o aguarda o próximo prefeito de Roma, que será escolhido nas urnas amanhã.
A frustração com os partidos tradicionais deu espaço para o crescimento do Movimento Cinco Estrelas (M5S, na sigla em italiano) — uma das principais legendas antiestablishment da Europa. Sua candidata, a advogada Virginia Raggi, surge como a favorita nas pesquisas, com pelo menos cinco pontos percentuais de vantagem sobre Roberto Giachetti, do Partido Democrata, que busca se recuperar após o escândalo envolvendo Marino, da mesma legenda, afastado por irregularidades na contabilidade municipal.
— Meu nome e minha trajetória são garantias de competência e honestidade — diz Giachetti. — E os romanos compreendem o enorme esforço que fizemos para limpar o partido.
Teste de fogo para aliados de Beppe Grillo
Analistas acreditam que uma vitória de Raggi na capital poderia impulsionar o M5S rumo a uma inédita vitória nas eleições nacionais. No entanto, a dificuldade da tarefa também representa um risco para as aspirações políticas do novo partido.
— Até agora, o M5S só governa cidades pequenas, atuando como uma das principais forças de oposição em nível nacional — disse ao “Wall Street Journal” Franco Pavoncello, professor de Ciência Política na Universidade John Cabot. — Roma, para o bem ou para o mal, será seu teste de fogo.
Ciente da descrença do eleitorado nos políticos após os escândalos, Raggi tem apostado na transparência como principal bandeira, afirmando que o M5S “não deve favores a ninguém” e “tem as mãos livres para limpar a cidade”. Seus detratores, no entanto, se concentram em dois pontos para tentar impedir sua vitória: sua passagem pelo escritório de advocacia de Cesare Previtti, ex-ministro de Silvio Berlusconi condenado por corrupção; e sua falta de experiência para governar o “monstro” em que se transformou a capital italiana.
— Os políticos experientes foram suficientemente maduros para governar Roma? Claro que não. Nós, que governamos com os cidadãos, estamos preparados para mudá-la e levá-la de volta ao normal — rebateu ela.