Dezenas de opositores são detidos antes da chegada de Obama em Cuba
HAVANA — Cerca de cinco horas antes da chegada de Barack Obama em Havana para sua visita histórica, o governo cubano prendeu manifestantes que protestavam contra o regime castrista. Todas as “Damas de Branco”, grupo de senhoras que manifestam pela libertação de presos políticos no domingo após uma missa, foram deitdas. No fim de seu protesto silencioso as damas encontraram com grandes grupos de apoiadores aos gritos de “Fidel!, Fidel!” e com a polícia. Após a dentenção das “Damas”, toda a confusão terminou em uma grande show de salsa.
— Estão nos predendo porque estamos em uma ditadurta. Estão nos batendo e nos predendo a mais de 40 semanas, todo domingo tem sido assim — gritou uma maifestante enquanto era levada para um ônibus onde seria detida, carregada por policiais femininas.
Toda a prisão foi realizada em poucos minutos. No momento do enfrentamento, em uma esquina do bairro de Miramar, as “Damas de Branco” se sentaram para evitar a detenção. Nesta hora, os grupos pró-regime, em número muito maior e mais organizados, faziam mais barulho. Os grupos pró-Castro vinham de todos os lados da rua. Durante as prisões, um grupo de música começou a tocar, como se fosse um bloco de carnaval, ampliando os ruídos e a confusão.
Nenhuma policial explicou os motivos da prisão. Os manifestantes pró-regime, organizados com bandeiras, camisas e faixas, diziam que tinham ido protestar “espontaneamente”. O grupo, oficialmente, reclamava o uso da Parque Ignácio Prado — onde afirmavam que haveria um evento cultural, que não estava divulgado. Mas as damas já haviam deixado a praça. O grupo xingava as damas, enquanto eram detidas, de “mercenárias” e “traidoras”.
— Estas mulheres só querem confusão. Recebem dinheiro para fazer estas manifestações. Por que elas não se mudam para os Estados Unidos? Elas não querem ir, querem ficar e criar confusão. São problemáticas — afirmou a aposentada Matilda Velásquez, de 63 anos, que disse que só estava ali, espontaneamente, para “pegar seu parque de volta”.
ATIVISTAS: 40 SEMANAS DE REPRESSÃO
Manifestantes pró-governo confirmavam que haivam ido ao local em ônibus do governo. Outros diziam que haviam recebido as bandeirolas de Cuba do Partido Comunista. Nenhum dos dançarinos ou dos músicos do show de salsa pode dar entrevista — eles eram impedidos pelos organizadores.
Mais cedo, as Damas de Branco já previam o confronto. Segundo elas, há mais de 40 semanas há repressão, com detenções e alguns casos de violência. Elas alegavam que, quando são detidas, acabam sendo liberadas algumas horas depois ou no dia seguinte.
— Acreditamos que o presidente Obama não pode se calar diante desta situação. vivemos uma ditadura que nos reprime. Só pedimos liberdade — disse Maylen Gonzáles, de 37 anos, após sair da missa, rezar e iniciar sua caminhada de protesto.
Outros grupos se manifestavam. Oguari Rondol Ribeiro, de 41 anos, exibia tatuagens contra Fidel e a favor dos EUA. Antonio Rodiles, um dos organizadores do Fórum pelos Direitos e pela Liberdade, que organiza o movimento #TodosMarchamos, com mais de 20 entidades, disse esperar que possa falar abertamente disso com o presidente Barack Obama — embora Rodiles tenha saído detido da manifestação.
— Esta visita não pode legitimar este regime. Novos passos de aproximação devem ser condicionados à liberdade em Cuba — disse ele, antes de ser preso.O voo de Barack Obama, que vem a Cuba com toda a família — incluindo sua sogra —, está previsto para pousar em Havana às 16h55. Até o início da tarde nem a Casa Branca nem o governo cubano haviam divulgado a agenda oficial da visita, que durará até terça-feira.
UM NOVO CAPÍTULO
Quando aterrissar no aeroporto José Martí de Havana, com sua esposa Michelle e suas duas filhas, Obama se converterá no primeiro presidente dos Estados Unidos a pisar em solo cubano depois de 88 anos.
Seus objetivos são dois: encontrar o povo cubano e consolidar a nova relação com o presidente Raúl Castro, mais um episódio da espetacular reaproximação iniciada em dezembro de 2014.
A visita, que se estenderá até terça-feira, quando Obama viajará para a Argentina, também servirá para que o presidente americano reforce a imagem de um Estados Unidos diferente à de um país que por décadas promoveu intervenções e considerou a América Latina seu quintal.
E no último ano de seu segundo mandato, Obama quer assegurar-se de que seus avanços em Cuba não revertam, seja quem for a assumir a Casa Branca no próximo ano.
Obama, que também se reunirá com dissidentes e atores da vida econômica, fará na terça-feira um discurso a todos os cubanos através da rádio e da televisão, como em 17 de dezembro de 2014, quando anunciou a partir da Casa Branca a aproximação entre os dois países hostis.
A chegada do primeiro presidente negro dos Estados Unidos — 30 anos mais jovem que Raúl Castro — também terá um impacto particular no seio da comunidade afrocubana, notoriamente subrepresentada entre a elite política cubana.
A aposta da Casa Branca é estabelecer vínculos suficientes, apesar do embargo econômico que o Congresso se nega por enquanto a revogar.
— Queremos que este processo de normalização seja irreversível — destacou Ben Rhodes, que insiste no impacto das políticas já empreendidas: facilitação das viagens, flexibilização das restrições comerciais.
Aos que o criticam por não ter conseguido concessões reais por parte do regime castrista, em particular em matéria de direitos humanos, o presidente americano promete discussões francas, reconhece que as mudanças levarão tempo e insiste na necessidade de romper com o isolamento, que considera estéril.
Durante o restabelecimento das relações diplomáticas no verão de 2015, Obama lembrou – para destacar o caráter anacrônico da política em vigor – que elas foram suspensas por Dwight Eisenhower em 1961, no ano em que ele nasceu.


