Cristãos ao redor do mundo alertam: “o arrebatamento está próximo”; veja vídeo
Mundo – Com uma voz calma e um sorriso no rosto, o pastor cristão sul-africano Joshua Mhlakela acendeu o debate global sobre o fim dos tempos. Em uma entrevista de quase uma hora publicada há três meses pela Centtwinz TV no YouTube, ele afirmou ter recebido uma mensagem direta de Jesus: “Estou chegando em breve”. Segundo sua profecia, o arrebatamento — evento bíblico em que os fiéis seriam levados aos céus — aconteceria na virada do dia 23 para o dia 24 de setembro, data que coincidiu com o Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico.
O vídeo viralizou e ajudou a espalhar a ideia de que o arrebatamento estaria próximo. Redes sociais como TikTok e X (antigo Twitter) foram inundadas por publicações sobre o tema, com maior repercussão nos Estados Unidos, países africanos e até na Índia. Para muitos cristãos, o toque das trombetas judaicas do Rosh Hashaná estaria ligado à profecia bíblica descrita por Paulo na carta aos Tessalonicenses: “o mesmo Senhor descerá do céu com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro”.
Profecia antiga, impacto moderno
A narrativa do arrebatamento não é nova, mas encontrou nas redes sociais um campo fértil para crescer. O fenômeno se alimenta de três elementos principais: a leitura literal da Bíblia por correntes neopentecostais, o alcance das plataformas digitais e a sensação de incerteza em um mundo marcado por guerras, crises econômicas e mudanças climáticas.
“O maravilhamento e o terror costumam vir juntos na experiência humana diante do mistério”, explica o sociólogo da religião Francisco Borba Ribeiro Neto, da PUC-SP. Para ele, o medo do futuro e o fracasso das promessas da modernidade — como a crença de que o desenvolvimento traria abundância — criam terreno fértil para que discursos apocalípticos ganhem força.
Vozes que ecoam a mesma mensagem
Mhlakela não está sozinho. No Brasil, a cantora e pastora Baby do Brasil declarou recentemente que “já entramos em Apocalipse” e que o arrebatamento poderia ocorrer “entre cinco e dez anos”. O pastor e influenciador Antônio Júnior também tratou do tema em um vídeo intitulado “O Arrebatamento Está Próximo?”, onde apresenta diferentes interpretações bíblicas sobre quando e como se daria o evento.
O pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes, por sua vez, evita cravar datas, mas aponta “terremotos, guerras e a falta de amor no mundo” como sinais da proximidade da volta de Cristo. Até mesmo a pandemia da covid-19 foi lembrada como possível evidência.
Já na Igreja Católica, a visão é diferente. O padre Paulo Ricardo lembra que a doutrina do arrebatamento foi popularizada apenas no século 19 por John Nelson Darby e reforçada pela Bíblia de Cyrus Scofield. Para ele, a Igreja rejeita essa leitura literal e defende uma interpretação mais contextualizada dos textos bíblicos.
Entre fé e incerteza
Apesar da divergência entre teólogos, o tema desperta emoções fortes. Há quem venda tudo, abandone o emprego ou chore em vídeos nas redes sociais acreditando que o mundo chegou ao fim. Outros fazem piada ou tratam o assunto com ironia.
Para o professor Gerson Leite de Moraes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é preciso lembrar que Paulo escreveu suas cartas em meio à ansiedade dos primeiros cristãos, que deixavam de viver a rotina esperando a volta imediata de Cristo. “Ele precisou alertar: continuem vivendo, porque ninguém sabe quando isso vai acontecer”, explica.
O sociólogo Edin Sued Abumanssur, também da PUC-SP, resume o impasse: “A questão do arrebatamento é uma doutrina muito polêmica, muito disputada, absolutamente não consensual”.
Entre a esperança e o medo, a profecia de Joshua Mhlakela se tornou mais um episódio de uma longa história de previsões sobre o fim dos tempos. Se há algo em comum entre todas, é que continuam mobilizando milhões de fiéis — e provocando debates acalorados.
“O arrebatamento está próximo, esteja você pronto ou não”, declarou o pastor sul-africano.
