Vice-líder do governo diz que Temer ‘vende o que não tem’
BRASÍLIA – No dia em que o PMDB, maior partido da base aliada, decide romper com o governo da presidente Dilma Rousseff, o vice-líder do governo na Câmara, deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE), criticou o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), dizendo que ele faz uma “apropriação indébita” de cargos ao, segundo ele, prometer ministérios e presidências de estatais a aliados caso assuma o lugar de Dilma. Se o impeachment da presidente for aprovado no Congresso, o que pode ocorrer até meados de abril, Temer assumirá a cadeira da Presidência até as eleições de 2018.
O deputado disse que, com o desembarque do PMDB, caberá ao governo “repactuar” os sete ministérios ocupados pelo partido – redistribui-los aos partidos ainda aliados mas que também podem vir a sair do governo, como PP, PR e PSD – e também os 600 cargos de segundo e terceiro escalão hoje nas mãos de peemedebistas. O líder petista participou de encontro, ontem, com o ex-presidente Lula, a presidente Dilma e o ministro Jaques Wagner no Palácio do Alvorada.
Sílvio Costa disse que o PMDB “vende o que não tem” a aliados, já que a bancada da Câmara nunca deu mais que 30 votos para o governo.
— Michel Temer está fazendo uma apropriação indébita, oferecendo ministérios, presidência de estatais, de bancos. Se o Michel está vendendo o que não tem, por que o governo não tem direito de repactuar? Vamos repactuar tudo, os sete ministérios e 600 cargos. Ninguém perde o que não tem. Antes, o PMDB da Câmara, com 69 deputados, nunca deu mais de 30 votos ao governo. O PMDB sempre vendeu uma coisa que não tem, e no painel ele nunca foi o maior partido da Câmara — disse o vice-líder do governo.
Para Sílvio Costa, uma eventual gestão de Temer terá “cheiro de elite” e não contará com o apoio de parlamentares do Nordeste, por exemplo.
— Um governo do Michel vai ter cheiro de elite, de parte dessa elite podre paulista. Será um governo sem cheiro de povo — criticou Costa.
Ontem, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, ligado a Temer, acelerou o desembarque e pediu demissão do cargo. As demais pastas ocupadas pelo PMDB terão que ser entregues até o dia 12 de abril – a legenda controla hoje os Ministérios da Saúde (Marcelo Castro), Ciência e Tecnologia (Celso Pansera), Minas e Energia (Eduardo Braga), Aviação Civil (Mauro Lopes), Agricultura (Kátia Abreu) e Portos (Hélder Barbalho). Aliada e amiga de Dilma, a ministra Kátia Abreu cogita deixar o partido para continuar na Esplanada dos Ministérios.
O vice-líder do governo afirmou ainda que o PMDB, com a decisão de deixar o governo, “fez um bem ao país”. Ele se disse feliz com a decisão dos peemedebistas.
— O PMDB é uma federação de partidos, nunca foi um partido orgânico. Deram um tiro no pé, fizeram um bem ao país.