PF investiga pagamento do Instituto Lula a empresa de filho do ex-presidente
CURITIBA, SÃO PAULO — A Lava-Jato investiga repasse de mais de R$ 1 milhão do Instituto Lula à empresa G4 Entretenimento, que pertence a Fábio Luís, um dos filhos de Lula, e a Fernando Bittar, um dos donos do sítio de Atibaia (SP). Os investigadores querem saber os motivos do repasse. Os investigadores apuram ainda as doações das cinco maiores empreiteiras do país fizeram ao Instituto Lula e pagamentos à LILS Palestras, empresa do ex-presidente Lula, como forma de repassar recursos oriundos de fraudes na Petrobras.
Segundo o procurador Carlos Fernando Lima, essas empreiteiras investigadas no esquema de corrupção na estatal foram responsáveis por 60% das doações ao Instituto Lula e 47% dos pagamentos por palestras entre 2011 e 2014. No total, valor chega a R$ 30,7 milhões, dos quais R$ 20,7 milhões foram destinados ao instituto e R$ 10 milhões para a LILS.
— Esse é um momento de sermos republicanos. Não há ninguém isento de investigação nesse país. Investigamos apenas pessoas sem foro privilegiado — afirmou o procurador, referindo-se à força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.
Para o procurador, há indícios de que valores do Instituto Lula beneficiaram empresas dos filhos.
– Não vemos razão econômica ligada ao Instituto Lula com empresas de familiares do ex-presidente, vamos analisar se os valores correspondem aos serviços prestados ou não – disse.
A Lava-Jato também descobriu que parte dos recursos que saíram da empresa e do Instituto Lula beneficiou pessoas do PT, por meio de pagamentos a empresas na qual essas pessoas aparecem como sócias. Segundo os procuradores, a própria presidência do Instituto Lula chegou a ser ocupada por José Di Fillipi Júnior, que foi tesoureiro da campanha de reeleição de Lula em 2006 e que é apontado por delatores da Lava-Jato como recebedor de cerca de R$ 3 milhões em propinas pagas pela UTC, uma das empresas do esquema na Petrobras.
Benefícios indiretos
Benefícios ao ex-presidente também podem ter sido pagos de forma indireta. Segundo a força-tarefa, a OAS pagou cerca de R$ 1,3 milhão pela armazenagem de parte da mudança retirada pelo ex-presidente do Palácio do Planalto ao fim do mandato. O período de armazenagem vai de 1 de janeiro de 2011 até janeiro deste ano. Quem negociou a armazenagem foi Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula e é sócio de Lula na empresa LILS Palestras desde março de 2011, mas o contrato foi feito em nome da OAS.
O contrato teria ocultado os bens armazenados. Para os investigadores, houve falsificação, pois o documento informou que se tratava de “armazenagem de materiais de escritório e mobiliário corporativo de propriedade da construtora OAS”. Foi Okamotto quem assinou, em 12 de janeiro passado, procuração autorizando a retirada dos bens do local.
Líder do esquema
O procurador explicou que a Lava-Jato investiga a cadeia de comando da organização criminosa que se infiltrou no governo federal e que se utilizava da Petrobras para desviar recursos. As principais empresas que mais pagaram a Lula participaram do esquema – Camargo Correa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e UTC.
Perguntado se o ex-presidente é suspeito de ser o líder do grupo criminoso que atuou na Petrobras, o procurador disse que só as investigações comprovarão isso, embora ele tenha sido o principal beneficiado pelo esquema.
– O principal beneficiário era o governo do PT, cujo titular era o ex-presidente. O benefício principal foi de Lula e da atual presidente. As investigações são no sentido de comprovar ou não a participação do ex-presidente na decisão de beneficiar os partidos da base aliada – disse Lima.
— Se ele conhecia o esquema e se recebeu vantagens indevidas estamos investigando nesta operação —explicou Lima, acrescentando que não há neste momento motivo para pedir a prisão do ex-presidente Lula.
Segundo Lima, há ainda evidências de que o ex-presidente e sua família foram beneficiados pela pelas empreiteiras OAS e Odebrecht com obras e reformas no tríplex do Guarujá e no sítio.
– Mesmo após o exercício da presidência, podem ser obtidas vantagens. Hoje, é uma investigação. Qualquer um no Brasil está sujeito a ser investigado quando há indícios de crime – explicou o procurador.