Motorista arrisca a própria vida e salva 15 pessoas de morrerem carbonizadas em acidente na BR-376; veja vídeo
Brasil – Um ato de coragem e instinto heroico evitou uma tragédia ainda maior na madrugada desta quarta-feira (12), na BR-376, em Guaratuba (PR). O motorista Luciano Vojvoda, que conduzia uma van com 15 familiares rumo ao parque Beto Carrero World, em Santa Catarina, conseguiu salvar todos os passageiros momentos antes de o veículo ser tomado pelas chamas.
O grave acidente ocorreu por volta das 4h40, no km 667 da rodovia, quando a van foi atingida violentamente por um caminhão em alta velocidade. O veículo de carga, carregado com produtos químicos e inflamáveis, causou uma sequência de explosões e um incêndio de grandes proporções.
Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o impacto foi tão forte que a van ficou prensada entre a mureta e outro caminhão. Mesmo ferido e em estado de choque, Luciano conseguiu reagir rapidamente e retirar os passageiros — entre eles crianças, pais e idosos — antes que o fogo consumisse completamente o veículo.
“Eu senti uma pancada muito forte na traseira. As pessoas começaram a gritar, e em poucos segundos o fogo começou. Eu estava preso pelo cinto, consegui me soltar e sair pela janela. Comecei a gritar por ajuda e, com outros motoristas e operários, fomos tirando as pessoas”, relatou Luciano, emocionado.
Com as portas danificadas e o calor das chamas aumentando, ele improvisou o resgate pela janela da van, cortando cintos de segurança com uma faca emprestada por outro motorista. Algumas vítimas estavam inconscientes.
“Não sei de onde tirei forças. Conseguimos retirar as crianças primeiro e depois os adultos. Usamos extintores, mas não foram suficientes. O fogo se espalhou muito rápido”, contou.
A viagem, que começou em Prudentópolis (PR) e tinha destino à cidade de Penha (SC), se transformou em um pesadelo. Entre os feridos estão um jovem de 21 anos e uma criança de 8, ambos em estado grave. O caminhoneiro que causou o acidente morreu no local.
De acordo com Luciano, a rodovia estava parcialmente interditada por causa de obras de pintura, com o trânsito fluindo em apenas uma faixa. Ele acredita que o caminhão vinha acima de 100 km/h, desrespeitando a sinalização.
“Os operários disseram que ele passou muito rápido, desviou de outro caminhão e veio direto na gente. Empurrou a van contra a mureta. Achei que fôssemos morrer todos ali”, disse o motorista.
Após o resgate, a PRF interditou o trecho no sentido sul. A fila chegou a ultrapassar 24 quilômetros, sendo liberada apenas após as 11h da manhã.
Ainda abalado, Luciano desabafou sobre o trauma e a lembrança deixada nas crianças:
“Era pra ser um dia feliz no Beto Carrero. Agora vai ser lembrado pelo medo, pelos gritos e pelo fogo. Vai demorar muito pra eu voltar pra estrada.”
O ato heroico de Luciano Vojvoda foi reconhecido por motoristas que presenciaram a cena. Para muitos, ele foi o responsável por transformar uma tragédia anunciada em um milagre.
Transcrição na íntegra do relato de Luciano Vojvoda:
“Nós saímos de Prudentópolis, aproximadamente, próximo às 0h45 e seguíamos para Penha, Santa Catarina, no Beto Carrero. Era um passeio em família, havia crianças, pais com as crianças, inclusive uma das passageiras era a minha filhada, que estava no banco atrás de mim.
Nós estávamos com 15 passageiros, mais eu, o motorista. 16 pessoas na van.
Bom, então, a obra se iniciou desde lá do primeiro radar, lá de cima da serra. E a faixa liberada para os veículos estava apenas a faixa da esquerda, apenas uma faixa. Então a gente já pegou a lentidão lá no início da serra, em que já tinha um caminhão estragado. A faixa foi reduzida a uma faixa só, sendo que são três faixas. E duas faixas já haviam terminado as obras e estavam pintando. Todas as faixas estavam sinalizadas com cone. Havia operários sinalizando o local também.
A fila seguia em uma velocidade de 5, 10 km por hora e sempre eu mantendo uma distância segura do veículo da frente. Então a gente sempre mantém uma boa distância em filas. E a gente passou por essa área de escape. E quando a gente chegou nesse local aqui, eu senti uma pancada muito forte na traseira da van.
Não vi, não ouvi buzina, não vi luz, só senti uma pancada. Aí as pessoas começaram a gritar. O desespero foi grande, porque a gente não sabia o que estava acontecendo. A única imagem que eu via era a traseira de um caminhão na frente da minha van. Aí eu senti um momento que a van iria tombar e ela voltou, eu senti que ela balançou. E logo, quando ela parou, os passageiros estavam gritando e eu vi o início de incêndio.
O incêndio começou no caminhão que colidiu com a gente, começou na carroceria, que estava carregado com produtos inflamáveis, com vários produtos químicos também, que causaram diversas explosões. Eu estava com a minha perna presa, preso no cinto de segurança, e demorei para conseguir tirar o cinto e conseguir tirar a minha perna. Passei pela janela da van e já gritei para as pessoas trazerem o extintor, porque a van estava se incendiando. Então vieram dois ou três extintores, mas não foram o suficiente.
Nesse momento eu fui ajudando a tirar as vítimas. Então vieram outros motoristas dos caminhões, eram as pessoas que estavam trabalhando, os operários, e nós começamos a retirar essas vítimas. Inclusive uma delas, que estava no banco dianteiro, ela estava inconsciente, desmaiada. Eu não sei de onde eu consegui tirar forças para conseguir tirar ela pela janela da van, pois as duas portas foram danificadas, não abriram as portas, a lateral da van foi arrancada com o impacto.
Estava acontecendo, estava fazendo a pintura da faixa no momento. Inclusive eu vi o caminhão fazendo a pintura, passei bem lentamente do lado do caminhão, respeitando o trabalho dos funcionários, e aí que a gente sentiu essa pancada. Então, voltando ao assunto, então a gente estava retirando as vítimas que estavam presas, por cinto de segurança, então um dos motoristas conseguiu uma faca, a gente acabou cortando os cintos, mas a van começou a se incendiar muito rápido.
Então eu consegui retirar as crianças, primeiramente, e os adultos que estavam presos. Uma das vítimas chegou a cair no asfalto, uma das vítimas que está mais grave, outra vítima teve lesões na cabeça e uma das crianças também teve lesão. Graças ao bom Deus e à Nossa Senhora que nos protegeu, então pelo tamanho do impacto, eu falo assim, não teve tanta gravidade, né? Então muitas crianças saíram, muitas não, duas das crianças saíram ilesas, inclusive a minha filhada que estava atrás de mim.
Sim, eu tentei fazer o possível para tentar tirar as vítimas de dentro da van, para elas não ficarem presas, devido ao início do incêndio, né? Mas os extintores não foram suficientes porque a carga se tratava de produtos químicos, tinta, muito material inflamável, inclusive eu vi ali restos de colchões, né? Então eu falo assim, o excesso de velocidade, né?
Operários relatam que esse caminhão passou a altíssima velocidade, a mais de 100 por hora. E tem imagens circulando aí de câmeras de segurança que esse caminhão, ele foi diretamente na van. Então ele desviou do caminhão que estava em obras, desse caminhão de pintura, e foi diretamente na van, colidindo a van contra a mureta, jogando ela novamente para a pista e basicamente quase passando por cima da van.
Meu sentimento é estado de choque, né? Por ver toda essa situação, né? Eu falo assim, não sei se foi problema mecânico, talvez imprudência, o excesso de velocidade, ou talvez o motorista teve algum problema, né? A gente não sabe. Mas hoje eu estou em estado de choque por pensar que futuramente essas crianças, elas vão lembrar de um dia que deveria ser alegre, feliz, passar o dia no Beto Carrero, elas vão lembrar dessa cena triste, né? De ver os pais machucados, todos ensanguentados, toda essa situação.
Então, infelizmente, eu falo assim, não é só danos materiais, mas sim teremos danos psicológicos também. Eu, com certeza, vai ser difícil eu voltar para a estrada novamente depois dessa situação.
E além, eu falo assim, da situação das crianças presenciarem tudo, tudo isso é acontecimento, né? Então, eu falo assim, na cabecinha delas, infelizmente, vai ficar um trauma muito grande, né? Então, a boa recordação que seria do Beto Carrero, de um dia alegre, feliz, brincando, vai ser um dia triste, né? Motivado por um acidente, talvez causado por uma imprudência, ou descuido, ou falhas mecânicas, né?
Com certeza, uma nova data de aniversário.”


