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Ignorância faz Escola de Samba “d3capitar” Dom Pedro II, o único Imperador Brasileiro que aprendeu Tupi; veja vídeo

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Ignorância faz Escola de Samba “d3capitar” Dom Pedro II, o único Imperador Brasileiro que aprendeu Tupi; veja vídeo

Brasil -No desfile da madrugada de 2 de março, no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, a escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi apresentou uma alegoria que chocou e indignou: um guerreiro indígena segurando a cabeça decapitada de Dom Pedro II, último imperador do Brasil. A cena, inserida em um enredo que celebrava a devolução do manto sagrado tupinambá pela Dinamarca em 2024, foi justificada como homenagem, mas revelou-se um ato de profunda ignorância histórica. Ao vilanizar um estadista que se destacou por feitos como a abolição da escravatura e por ser o único chefe de Estado brasileiro a dominar a língua tupi, a agremiação desrespeitou um legado que deveria ser motivo de orgulho nacional.

Dom Pedro II assumiu o trono em 1840, aos 14 anos, e governou até 1889, conduzindo o Brasil por quase cinco décadas de estabilidade em um continente marcado por turbulências. Intelectual dedicado, ele promoveu a educação, expandiu as ferrovias e modernizou a infraestrutura do país. Sua atuação na abolição da escravatura, concretizada em 1888, foi um marco de progresso social. Além disso, seu interesse pelas culturas originais do Brasil o levou a estudar e falar fluentemente o tupi, um feito singular que reflete seu respeito pelos povos indígenas — um contraste gritante com a imagem de opressor sugerida pela alegoria da Tucuruvi.

A deposição do imperador, em 1889, não resultou de rejeição popular, mas de um golpe orquestrado por uma elite republicana. Mesmo exilado, ele jamais deixou de amar o Brasil, morrendo em Paris com saudades da pátria. Associá-lo à perda do manto tupinambá, um artefato levado por colonizadores europeus séculos antes de seu reinado, é uma distorção histórica que não resiste a qualquer análise séria.

O Carnaval é reconhecido como palco de criatividade e crítica social, mas a representação escolhida pela Acadêmicos do Tucuruvi ultrapassou os limites da licença artística para cair no terreno do desrespeito. O enredo sobre o manto tupinambá oferecia uma oportunidade valiosa de destacar a resiliência dos povos indígenas e o significado de sua restituição ao Brasil. No entanto, a decisão de incluir a decapitação simbólica de Dom Pedro II carece de fundamento histórico e serve apenas para criar uma narrativa sensacionalista, desprovida de contexto ou verdade.

O historiador Edmilson Cruz, em reação publicada nas redes sociais, resumiu o problema com precisão: “No Brasil não há história real, não há fontes, somente ideologia.” A alegoria da Tucuruvi é um exemplo claro dessa tendência, sacrificando a complexidade do passado em nome de um efeito visual impactante, mas vazio de significado. Dom Pedro II não foi um inimigo dos indígenas; pelo contrário, sua postura curiosa e respeitosa o torna uma figura incompatível com o papel de vilão que lhe foi imposto na avenida.

A decapitação simbólica de Dom Pedro II no Carnaval de 2025 não é arte, mas um desserviço ao povo brasileiro, que merece conhecer a trajetória de seus líderes com honestidade. O imperador, que falava tupi e dedicou sua vida ao progresso do país, não pode ser reduzido a um troféu em uma alegoria mal concebida. A Tucuruvi tinha a chance de unir o resgate da cultura indígena ao reconhecimento de um governante que valorizava essa herança, mas preferiu o caminho da ignorância, manchando ambos os legados.

É preciso que o Carnaval, como espelho da identidade nacional, eleve o debate em vez de rebaixá-lo. Dom Pedro II merece ser lembrado por sua contribuição ao Brasil — da educação à abolição, do tupi ao sonho de uma nação unida —, e não por uma cabeça cortada que só reflete a falta de respeito de quem não conhece a história. Que o próximo desfile traga luz ao passado, em vez de sombras de desinformação.


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