Ibama autoriza Petrobras a perfurar poço exploratório de petróleo na Foz do Amazonas
Brasil – A Petrobras recebeu, nesta segunda-feira (20), autorização do Ibama para iniciar a perfuração de um poço exploratório em águas profundas na região da Foz do Amazonas, área considerada uma das novas fronteiras do petróleo e gás brasileiro. A operação, que deve durar cerca de cinco meses, busca avaliar se há reservas em escala comercial.
Segundo o Ibama, a licença foi concedida após uma série de aperfeiçoamentos no projeto inicialmente rejeitado em 2023. A estatal apresentou novos planos de contingência e estruturas de proteção ambiental, incluindo um Centro de Reabilitação e Despetrolização (CRD) em Oiapoque (AP) e embarcações especializadas em emergências marítimas.
“Após o indeferimento do requerimento em 2023, Ibama e Petrobras iniciaram uma intensa discussão, que permitiu significativo aprimoramento do projeto, sobretudo na estrutura de resposta a emergências”, informou o órgão.
A perfuração ocorrerá no bloco FZA-M-059, localizado a cerca de 500 km da foz do Rio Amazonas e 175 km da costa, em mar aberto. Nesta fase, não haverá produção de petróleo — trata-se exclusivamente de pesquisa exploratória.
Petrobras celebra “conquista da sociedade brasileira”
Em nota, a Petrobras classificou a licença como “uma conquista da sociedade brasileira” e afirmou que o processo comprovou a robustez das medidas ambientais adotadas.
“A exploração da Margem Equatorial é estratégica para assegurar a segurança energética do país e os recursos necessários para uma transição energética justa”, declarou a estatal.
A empresa reforçou que atua em conformidade com os padrões internacionais de segurança ambiental e destacou que o petróleo continuará sendo essencial “para garantir disponibilidade e confiabilidade energética” durante a transição para fontes renováveis.
Governo comemora: “futuro da soberania energética”
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, comemorou a decisão e afirmou que o avanço na Margem Equatorial é um passo decisivo para o futuro energético do Brasil.
“A Margem Equatorial representa o futuro da nossa soberania energética. Fizemos uma defesa técnica e responsável para garantir que a exploração seja feita com total respeito ao meio ambiente. O nosso petróleo tem uma das menores pegadas de carbono do mundo”, afirmou o ministro.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), também celebrou o aval do Ibama, afirmando que a decisão mostra “ser possível conciliar crescimento econômico e preservação ambiental”.
Potencial bilionário
Estudos preliminares indicam que a região pode se tornar um novo “pré-sal”, com reservas estimadas em até 10 bilhões de barris de petróleo — volume que poderia elevar a produção nacional em 1,1 milhão de barris por dia.
Atualmente, o Brasil possui 16,8 bilhões de barris comprovados, o que garantiria autossuficiência até 2030.
Críticas e tensão às vésperas da COP30
Apesar do otimismo do governo, a decisão provocou forte reação de ambientalistas e entidades climáticas, que veem a licença como um retrocesso na política ambiental brasileira.
“É uma dupla sabotagem à COP30 e ao clima. O governo estimula mais expansão fóssil e atrapalha a entrega mais importante da conferência: a eliminação gradual dos combustíveis fósseis”, criticou Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima.
O jornalista e ambientalista André Trigueiro também apontou uma “contradição” na postura do Brasil, que sedia a COP30 em Belém (PA) e, ao mesmo tempo, amplia investimentos em exploração de petróleo na Amazônia.
Em declarações anteriores, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, defendeu um “caminho do meio”, ressaltando que países em desenvolvimento, como o Brasil, não podem abrir mão imediata dos combustíveis fósseis, mas precisam avançar na transição energética.
Próximas etapas
Após a perfuração, a Petrobras ainda precisará:
Confirmar se há petróleo em quantidade comercial;
Declarar a comercialidade do campo;
Obter nova licença do Ibama para a fase de produção.
A autorização encerra um processo que começou há mais de uma década — o bloco foi concedido à Petrobras em 2013, e o licenciamento ambiental teve início em 2014.
Com o início da perfuração na Foz do Amazonas, o Brasil entra oficialmente em uma nova etapa de exploração na Margem Equatorial, equilibrando o desafio entre crescimento econômico, soberania energética e preservação ambiental — um debate que promete dominar as discussões globais até a COP30.