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“Emergência não é lugar para amadores”: médica Ludhmila Hajjar detona Hospital Santa Júlia e equipe de saúde envolvida na morte de Benício

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“Emergência não é lugar para amadores”: médica Ludhmila Hajjar detona Hospital Santa Júlia e equipe de saúde envolvida na morte de Benício

Brasil – A morte do pequeno Benício Xavier, de apenas 6 anos, após receber uma dose de adrenalina diretamente na veia dentro do Hospital Santa Júlia, em Manaus, provocou comoção nacional e reacendeu o debate sobre a precarização da saúde no Brasil. Entre as vozes mais respeitadas e contundentes que se manifestaram está a da cardiologista, intensivista e professora titular de emergências da USP, Dra. Ludhmila Abrahão Hajjar, que publicou o artigo “A morte de Benício e a falência silenciosa da ética em saúde”, no qual desmonta, ponto por ponto, a cadeia de erros que levou à tragédia.

No texto, Ludhmila não apenas critica o episódio, mas aponta o caso como sintoma de um sistema que opera no limite do improviso — e sem responsabilidade.

“Nada disso é exceção. É rotina”, afirma Ludhmila sobre o caos no Santa Júlia

Segundo a médica, o caso de Benício é a materialização de tudo que o Brasil insiste em tolerar: profissionais sem formação adequada atuando em setores de alta complexidade, ausência de supervisão, inexistência de farmacêuticos clínicos e uma cultura institucional que falha em garantir o mínimo de segurança ao paciente.

“No Hospital Santa Júlia, a médica não tinha especialização, não acompanhou o preparo do medicamento, não avaliou o paciente. Não havia farmacêutico para conferir dose e diluição. A técnica de enfermagem trabalhava sem supervisão. A cadeia de segurança, que deveria ser inquebrável, simplesmente colapsou”, escreveu.

Ludhmila reforça que o ocorrido não representa um ponto fora da curva:

  • “Nada disso é exceção. É rotina em milhares de serviços Brasil afora.”
  • Um sistema que forma muitos, treina poucos — e mata

No artigo, a especialista apresenta dados alarmantes sobre a formação médica no país. Dos mais de 575 mil médicos ativos, cerca de 40% trabalham sem residência, inclusive em emergências, maternidades, UTIs e setores críticos.

“É como liberar um piloto para voar sem horas de treino. Quem sofre é o paciente, entregue a um profissional que nunca passou por plantões supervisionados, simulações ou rounds diários”, pontua.

Ela também critica a explosão de faculdades de medicina — 405 escolas, muitas abertas por decisões judiciais — sem hospitais de ensino, sem preceptores qualificados e sem estrutura mínima para treinar futuros médicos.

“Isso não é democratização. É temeridade”, dispara.

Hospital Santa Júlia vira símbolo de negligência

Com a repercussão do caso, o Hospital Santa Júlia se tornou alvo de indignação pública. Críticas, cobranças e pedidos de responsabilização recaem tanto sobre a equipe envolvida quanto sobre a gestão da unidade.

Para Ludhmila, o problema é sistêmico:

“Quando o país aceita a precarização como normal, tragédias deixam de ser acidentes e passam a ser consequências lógicas.”

As mudanças urgentes defendidas por Ludhmila

No artigo, ela apresenta soluções concretas e imediatas, entre elas:

  • Implementação do Enamed, exame nacional obrigatório para futuros médicos, aplicado no 4º e 6º anos
  • Suspensão de cursos de medicina com desempenho insatisfatório
  • Auditorias clínicas obrigatórias em todos os hospitais
  • Transparência pública sobre a formação de cada profissional
  • Criação de vagas de residência médica em proporção de 1 vaga para cada egresso

“Emergência não é lugar para amadores; pediatria não é lugar para improviso; administração de medicamentos não pode ser tentativa e erro”, reforça.

“Benício não volta, mas sua memória precisa provocar mudanças”

A médica encerra seu artigo com um apelo contundente: o Brasil não pode mais aceitar negligência como rotina.

“Benício não volta. Mas sua memória deve nos obrigar a mudar o que está errado, com urgência e coragem”, escreveu.

O caso, que chocou o país, agora se torna um marco na discussão sobre segurança do paciente e formação médica. E as palavras de Ludhmila ecoam entre profissionais, famílias e autoridades: o Brasil precisa parar de normalizar o inaceitável — porque, em emergências, improvisar custa vidas.



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