Cunha evita comentar citação na delação de Delcídio
BRASÍLIA – O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta terça-feira que não irá comentar a citação a ele e à relação “densa” com o banqueiro André Esteves (BTG) na delação do senador Delício Amaral (PT-MS) porque são acusações genéricas. Na delação, Delcídio diz que Esteves influenciava Cunha a promover alterações em medidas provisórias. Cunha, no entanto, classificou como “grave” o envolvimento do ministro Aloizio Mercadante (Educação), justificando que há uma gravação de conversa dele com o assessor José Eduardo Marzagão na qual Mercadante teria tentado influenciar na decisão de Delcídio de fazer a delação premiada.
— Não vou comentar essa delação, até porque, pelo que eu vi ali, não tem uma acusação explícita, diferentemente das outras ( delações). Então, vou deixar o curso para ver o que os advogados vão fazer. Tem uma citação genérica que eu não vou comentar, é adjetivo, não tem nada concreto — disse Cunha sobre sua citação na delação.
Cunha admitiu que conversou e tem o hábito de manter conversa com presidente de grandes bancos e não se envergonha disso. Segundo Cunha, ele já mostrou que atuou com interesses contrários ao de Esteves em uma das MPs que tramitaram no Congresso e que ser chamado de “moleque de recados” é apenas adjetivação.
— Falei com ele, com Trabuco, Setúbal, e vários outros presidentes de grandes bancos. Eu sempre tive um hábito de manter diálogo. Não tenho nenhuma vergonha disso. É absolutamente normal, faz parte da nossa função. (moleque de recados) é adjetivo, não vou comentar adjetivos. Eu poderia dar 200 adjetivos, mas não vou descer nesse nível — disse Cunha.
Para o presidente da Câmara, no entanto, no caso de Mercadante há a gravação além da delação, mas a decisão de sair do governo cabe a ele e á presidente Dilma:
— Ali tem uma gravação com a voz e as informações contidas nos autos. Eu não ouvi a gravação nem tenho todos os detalhes, mas efetivamente é um fato grave.
Para Cunha, mesmo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assuma a coordenação política no governo, a relação com a base aliada não irá melhorar. Segundo ele, é um direito de Dilma nomear e Lula aceitar, mas “efetivamente” não sabe dizer ser é a melhor saída.
— A deterioração da base do governo está de tal nível que acho difícil reversão, a tendência é só perder. Eu acho que não tem mais ninguém que pode chegar e mudar essa relação. Nós estamos em uma crise política, econômica, agravadas a cada dia com novas denuncias envolvendo a campanha eleitoral e membros do próprio governo. Os partidos que estão na base, os seus membros, não acompanham as lideranças nas votações — disse Cunha.
(* Estagiário sob supervisão de Isabel Braga)